sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

SOMOS TODOS IGUAIS

Durante mais de 300 anos, muitos africanos foram arrancados de suas terras, na África, por caçadores armados, e levados como escravos para as Américas. Trancados e acorrentados nos porões sujos dos chamados “navios negreiros”, muitos morriam no caminho. Quando desembarcavam nas Américas, os africanos tornavam-se propriedades dos brancos por toda a vida. Muitos deles eram surrados, sofriam humilhações e chegavam até a ser mortos. Outros eram tratados como animais domésticos. Cerca de 15 milhões deles foram trazidos às Américas e escravizados. Um dos países que mais receberam escravos foram os Estados Unidos. A história que vamos contar se passou nos EUA, cuja economia se apoiou, nos séculos XVII e XVIII, na exploração da mão de obra escrava, composta por africanos. Muitos cidadãos, porém, não concordavam com isso e, em 1860, houve uma guerra para combater a escravidão: a Guerra de Secessão. A guerra resultou na libertação dos negros, mas não seria apenas uma lei, abolindo a escravidão, que acabaria com todos os problemas deles. Mesmo em liberdade, os negros ainda eram bastante discriminados e vistos como gente inferior. Um exemplo dessa discriminação: aos negros restavam os trabalhos que os brancos se recusavam a executar. Além disso, eles não podiam frequentar escolas, restaurantes nem bairros de brancos. Chegava-se ao extremo de considerar as crianças negras como “retardadas”. A situação se agravou quando, em 1865, alguns brancos da sociedade reuniram-se e criaram um grupo de nome estranho – a Ku Klux Klan (KKK) -, que praticava atos terríveis contra os negros: linchava-os, pendurava-os em árvores, incendiava suas casas. Esse grupo trajava estranhas roupas brancas e capuzes em forma de cone. O mais triste é que a Ku Klux Klan ainda existe e continua violenta. Por muitos anos, os negros da América do Norte sofreram e lutaram por injustiça, igualdade e liberdade. Pequenas conquistas foram obtidas, mas ainda havia muito a mudar... Precisavam de alguém que os fizesse acreditar mais em si mesmos, alguém corajoso que os ajudasse de verdade, um líder, enfim. SURGE UM LÍDER Foi então que, em 1929, nasceu Martin Luther King. Filho de uma família negra e nascido em Atlanta, nos Estados Unidos, teve uma infância sofrida, por causa do preconceito. Seu pai não gostava do racismo e afirmava que, se fosse preciso, lutaria até morte para combatê-lo. O menino admirava essa atitude do pai. Aos poucos, Luther King foi percebendo a separação entre as duas cores. Quando menino não podia brincar com seus amigos brancos. Já um pouco mais velho, ia à sorveteria, era obrigado a ficar do lado de fora para ser atendido. Só podia ir a escola acompanhado de crianças negras – com brancos nem pensar. Mas o fato mais marcante de sua juventude ocorreu certa noite, quando tinha 15 anos e viajava com seu professor, negro também, num ônibus lotado. Quando dois brancos embarcaram, o motorista mandou que Luther King e o professor se levantassem para lhes dar lugar. Isso o deixou furioso, pois tinha acabado de ser premiado por um trabalho sobre os direitos dos negros e descobria que esses direitos não existiam. Ainda aos 15 anos de idade, Luther King entrou em uma das melhores faculdades negras do país. Cursou Sociologia, mas decidiu depois ser pastor evangélico e cursar Teologia. Conheceu a história e as ideias de um homem que o fascinou e no qual decidiu inspirar-se Gandhi. Luther King casou-se com Coretta Scott, que viria a se tornar sua grande companheira de todas as lutas. Com ela, foi trabalhar como pastor numa Igreja Batista em Montgomery, no Alabama. Seu trabalho começava muito cedo, às 5h30 da manhã. Ele ajudava as famílias necessitadas e tratava dos problemas que os negros enfrentavam com leis injustas e também com leis que eram justas e deveriam garantir seus direitos, mas não eram cumpridas: as primeiras tinham de ser mudadas; as segundas tinham de ser respeitadas. Luther King começava a se tornar um grande orador. Muita gente ia à sua Igreja porque se sentia elevada e inspirada pelas belas coisas que dizia. O HEROI DA NÃO VIOLÊNCIA O prestígio de Luther King ia ficando cada vez maior, até que um dia, em 1955, houve um incidente com uma jovem costureira negra chamada Rosa Parks. Ao sair do trabalho e pegar um ônibus, ela viu que todos os assentos do fundo – destinados aos negros – estavam lotados. Notou então, um lugar vazio no meio do ônibus e sentou-se, mas sabia que, se um branco chegasse, teria de se levantar. Quando entraram no ônibus três brancos, dois se sentaram e um ficou em pé. O motorista pediu a Rosa que se levantasse e cedesse o lugar, mas ela recusou-se a fazê-lo, porque estava cansada. Diante da recusa, o motorista ameaçou chamar a polícia, Rosa respondeu: “Então, prenda-me!” O motorista desceu e chamou um policial... E o guarda a prendeu. Esse incidente foi a gota d’água para que Martin Luther King começasse sua grande luta. Os negros e também alguns brancos que consideravam aquela situação injusta decidiu que mais nenhum negro tomaria ônibus. Isso faria com que a notícia da luta contra o racismo chegasse a todos os americanos e também diminuiria os lucros das companhias de ônibus. Ou seja, eles veriam que o racismo, além de desumano e contrário à lei, ainda trazia prejuízo financeiro. E prejuízo é algo que nenhuma empresa quer ter, pois o mais importante para as empresas é o lucro – às vezes até mais do que o ser humano. O movimento cresceu. Os pastores divulgavam a notícia, distribuindo panfletos. As pessoas iam ao trabalho de táxi, de carona ou a pé. Formou-se uma associação e Luther King foi eleito líder. Eles queriam que a lei fosse modificada em três pontos: 1º) os motoristas deveriam tratar os passageiros negros com respeito; 2º) a ordem de sentar era de quem chegasse primeiro, com os negros começando pelo fundo e os brancos pela frente; 3º) a empresa teria de contratar motoristas negros para os ônibus que passagem por bairros negros. A luta pela justiça havia começado nos Estados Unidos, mas os brancos não aceitaram tudo pacificamente. O prefeito da cidade colocou a polícia contra os manifestantes. O próprio Luther King recebeu muitas ameaças de morte e até uma bomba foi atirada em sua casa. Porém, assim como Jesus e Gandhi, Martin Luther King entendia que se devem perdoar as agressões e não reagir, combatendo ódio com amor: “A violência traz apenas vitórias temporárias. Ela apenas cria novos problemas sociais e nunca traz a paz permanente”. Sem violência, mas com coragem, o movimento continuou e os brancos, enfim, foram obrigados a aceitar as reivindicações. Os negros podiam voltar a usar os ônibus. O sucesso incentivou outras comunidades negras a protestar. Luther King era agora conhecido e solicitado em todo o país. Os jornais, o rádio e a televisão divulgavam e apoiavam a proposta de Luther King e muito do sucesso do movimento deveu-se a isso. É uma prova de que, quando a imprensa decide lutar pelo que é justo, pode ajudar a sociedade a ser melhor. A partir do exemplo de Luther King, surgiram diversos movimentos estudantis, entre eles “os viajantes da liberdade”, que reuniam brancos e negros viajando pelo país afora. Numa das viagens, em 1961, durante uma manifestação contra o racismo, eles encontraram membros da Ku Klux Klan que estavam armados. Os estudantes, seguindo os conselhos de King, não usaram de violência, mas foram espancados pelos brancos da Klan. Apesar dos sacrifícios, os estudantes conseguiram uma vitória: o governo dos Estados Unidos acabou com a separação entre brancos e negros nos terminais de ônibus e nas lanchonetes, e passou a haver mais igualdade no trabalho. A não violência havia conquistado muita coisa. Mas ainda havia outras a conquistar. ELE TINHA UM SONHO No dia 28 de agosto de 1963, Martin Luther King fez um discurso que se tornou famoso por seu apelo de justiça e liberdade. Ele estava diante de milhares de pessoas, negras e brancas, na capital dos Estados Unidos, Washington, tendo acima a estátua de Lincoln – o presidente americano que lutaria contra a escravidão. Luther King queria lutar pelo direito do negro ao voto. Em outubro de 1964, recebeu um dos prêmios mais importantes do mundo: o Nobel da Paz. No dia 21 de março de 1965, milhares de pessoas saíram às ruas para reivindicar o direito de voto. Ele dizia que estavam em marcha rumo à terra da liberdade e que nenhuma agressão poderia detê-los. E conseguiram o que queriam! O trabalho de Luther King nunca parava: em abril de 1968, foi a Memphis ajudar os trabalhadores negros na luta por salários iguais aos dos brancos. Falou de sua esperança de um mundo novo e disse que a não violência deveria ser sempre a única arma na luta. A felicidade brilhava nos olhos da multidão. Mas, naquela noite, Luther King saiu no terraço do hotel onde estava hospedado. De repente, ouviu-se um tiro. Ele rodopioiu e caiu no chão. Assim, morreu o herói da não violência. Mas seu sonho não morreu. Continua se realizando aos poucos, nos Estados Unidos, no Brasil e no mundo. ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA A escravidão é uma prática antiga que reviveu após as descobertas de novas terras pelos colonizadores europeus. A Colonização se deu em todos os continentes do mundo. Mas, nas Américas, foram os indígenas e os negros, trazidos da África, que sofreram essa injustiça. Os índios foram os primeiros escravizados pelos colonizadores. Com o tempo, a mão de obra indígena foi substituída pela africana, pois os índios resistiam à escravidão com guerras, fugas e recusas ao trabalho. Muitos também morriam porque contraiam as doenças dos brancos, para as quais seu organismo não tinha defesa. Segundo o Historiador Boris Fausto, só no Brasil, entre os anos de 1562 e 1563, morreram em torno de 60 mil índios. Os europeus achavam que podia tirar os negros da África e levar para serem escravos nas suas colônias da América. A atividade de captura e transporte dos negros para as Américas chamou-se de “tráfico negreiro” e era bastante lucrativa. Os traficantes de escravos estabeleciam com os chefes tribais africanos um comércio baseado na troca de tecidos, joias, armas, tabaco, cachaça por africanos capturados em guerras com tribos inimigas. Calcula-se que entre 1500 e 1855, entraram nos portos brasileiros cerca de 4 milhões de africanos pertencentes a diferentes tribos e que eram, na sua maioria, jovens do sexo masculino. Como reação à escravidão, eram constantes os atos de resistência – fugas, tentativas de assassinato, suicídios. Havia também a formação de quilombos, lugares escondidos de resistência. Destes, o mais importante, que se tornou símbolo da resistência negra contra a escravidão no Brasil, foi o Quilombo dos Palmares, liderado por um escravo alagoano. Criado por um padre, ele fugira aos 15 anos e adotara o nome de Zumbi, que significa “guerreiro”. Zumbi não demorou a assumir o comando militar do Quilombo. No ano de 1678, não aceitou um acordo com as autoridades coloniais e provocou uma guerra. Lutou contra os portugueses por 14 anos. Porém, em 1694, o Quilombo dos Palmares foi destruído e Zumbi teve de fugir, vindo a morrer em uma emboscada. Nos Estados Unidos, país de Luther King, a escravidão acabou em 1863, após a Guerra de Secessão. No Brasil, a princesa Isabel assinou a abolição da escravatura em 1888. Em ambos os países, os negros foram libertados, mas isso não significou que os brancos passaram a respeitá-los. Nos Estados Unidos, a vida social dos negros era bastante limitada e eles sofriam muito com o racismo. No Brasil, tudo isso era mais disfarçado, mas o preconceito era forte. Hoje, em nosso país, é proibido por lei tratar alguém de forma diferente pelo fato de a pessoa ser de outra cor. Mesmo assim, há gente que ainda faz isso. Por outro lado ainda existe escravidão em vários países. Milhares de pessoas, incluindo crianças, continuam a ser compradas, vendidas, transportadas e mantidas em cativeiros contra a sua vontade para serem usadas como mão de obra e viverem em condições miseráveis. Muitas são as nações do mundo que atuam no combate à escravidão moderna.

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