sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O MENSAGEIRO DA PAZ

Os antigos amigos de festas e de guerras – Bernardo, Leão, Rufino, Ângelo – logo se comoveram com a proposta de Francisco. Um a um foram deixando seus bens e passando a viver pobremente a seu lado. Pregavam pelas ruas, praças e estradas, o Evangelho de Jesus, mas em italiano, para que o povo entendesse. Houve também uma jovem, muito doce e delicada, da nobreza de Assis, que quis fazer o mesmo: Clara. Alguns historiadores contam que, no começo, Clara e outras amigas viviam lado a lado com Francisco e seus amigos, ajudando os necessitados e os doentes. Na época em que viveram Francisco e seus companheiros, a Igreja Católica exercia grande controle sobre todas as manifestações religiosas: ou a pessoa era cristã de acordo com o que o papa e os bispos consideravam correto, ou era acusada de heresia. Por isso, Francisco foi aconselhado a pedir autorização ao papa – na época Inocêncio III – para prosseguir com seu modo de vida. A princípio, Inocêncio não deu permissão a Francisco. Porém, depois, teve um sonho no qual viu a igreja de São Pedro, sede do papado em Roma, ruir de alto a baixo. Então um jovem humilde se aproximava e, só de encostar os ombros nas paredes, a igreja se reconstruía. Impressionado com as imagens do sonho, o papa deu-lhe sua autorização. Com isso, a frase que Jesus dirigira a Francisco passara a fazer sentido: quando o Mestre lhe disse: “reconstrói a minha igreja”, não falava de São Damião, mas da própria Igreja Católica, que vinha enfrentando graves problemas de corrupção e disputa por poder. O Papa Inocêncio III havia iniciado uma Cruzada, considerada uma “guerra santa”, pois os cristãos iam lutar contra os muçulmanos para conquistar as terras santas onde Jesus viveu. Na época, muitos – entre os quais o papa – consideravam justificável matar por motivos religiosos. Francisco, diante dessa situação, agiu de modo muito diferente das pessoas de sua época: dirigiu-se a um dos acampamentos dos cruzados no Egito e lá ficou um ano tentando convencer o Cardeal Pelágio Galvanni, líder da Cruzada, a dar fim àquela guerra injusta. Como isso de nada adiantou, decidiu visitar, contra a vontade do cardeal e em plena guerra, o lado dos muçulmanos. Foi recebido pelo próprio sultão, Malik al Kamil, o qual, ao que se conta, o acolheu em paz e o deixou partir são e salvo, certamente tocado pelo gesto amistoso de Francisco. O movimento de Francisco começou a crescer. Em poucos anos vieram centenas de pessoas de diversos países da Europa, atraídos pelo ideal de vida franciscano. Francisco fundou uma ordem religiosa e as mulheres do grupo, sob a liderança de Clara, fundaram outra ordem (a das clarissas). Elas tinham de ficar reclusas, isto é, dentro do convento, pois na época as mulheres não podiam fazer as mesmas atividades que os homens, como cuidar dos doentes, ter liberdade de ir e vir. A ordem fundada por Francisco foi chamada de “Ordem dos Frades Menores”, pois ele desejava, ao lado dos irmãos, servir a todos com grande humildade e amor, sem nunca querer exercer poder sobre ninguém. Como toda ordem religiosa precisa ter regras, Francisco as criou pensando nas palavras de Jesus. Ele queria que os franciscanos não tivessem propriedades e vivessem apenas do trabalho manual, sempre ajudando o próximo. Queria também que pudessem retirar-se às vezes para, em meio à natureza, louvar a Deus. Desejava, ainda, que os franciscanos tivessem liberdade para pregar pelas estradas as ideias de Jesus e para desobedecer, caso algum superior lhes ordenasse algo contrário ao Evangelho. Enfim: seu ideal era formar um grupo de pessoas que vivesse o Evangelho em sua maior pureza. Foi então que surgiram conflitos entre o que Francisco realmente queria e o que a igreja aceitava. Além disso, havia dentro da própria ordem quem não concordassem com todas as regras de Francisco. Assim, anos depois, essas regras, que haviam sido aprovadas pelo então papa Inocêncio III, foram alteradas pelos próprios membros da ordem e depois aprovadas pelo novo papa, Honório III. Deprimido com essas mudanças, Francisco retirou-se para os montes e passou muito tempo em oração, sentindo-se fracassado na missão que Jesus lhe confiara. Porém, conta-se, Jesus dirigiu-se novamente a ele: “Pobre homenzinho, por que te entristeces? Tua ordem não é a minha ordem? Não sou eu que ela tem como pastor supremo? Deixa-te então de afligir-te e cuida antes da tua própria salvação”. Francisco, então, conformado, viveu seus últimos anos com serenidade, sem voltar a dirigir a ordem que fundara. Morreu jovem ainda, com cerca de 45 anos, em 1226. Dois anos depois, foi canonizado. Conta-se que, no momento de sua morte, um dos frades viu sua alma subir ao céu, brilhando como uma estrela.

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