sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A COMPAIXÃO E AS LEIS

A humanidade não realizou conquistas somente nas ciências e na tecnologia. Em suas lutas, o ser humano também obteve progressos também no campo da compaixão e da felicidade. Porém, hoje, parece que as pessoas perderam a noção da compaixão. Uma das questões mais discutidas atualmente é a pena de morte, ou seja, se o criminoso deve pagar com a própria vida pelo crime que cometeu. Mas essa não é uma discussão nova. Séculos atrás, os criminosos eram condenados à morte por qualquer crime. Depois, em muitos países, as leis se modificaram e a pena de morte foi abolida. Foi justamente a compaixão que fez com que as leis fossem modificadas. No Brasil, como em, outros países, a pena de morte nunca existiu legalmente. Porém, em outros países, a ideia da pena de morte tem muitos defensores, mesmo após a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) proclamar que todos os seres humanos têm direito à vida. Victor Hugo (1802-1885), poeta e romancista francês do século XIX, escreveu um livro, chamado O Último Dia de um condenado à morte, no qual fez uma bela defesa da abolição da pena de morte. Segundo ele, quem é favorável à pena de morte na verdade nunca pensou bem no que ela significa. E continua, afirmando que há duas possibilidades de julgar a pessoa que está sendo punida. No primeiro caso, se considerarmos que o condenado não tem família, parentes, nem amigos verdadeiros, e, portanto não recebeu carinho, educação, nem instrução, que direito teremos de matar um órfão infeliz? Ninguém se preocupou em cuidar dele! Ele será punido por ter tido uma infância cruel, sem cuidados, sem afeto e educação! Ele será acusado do crime de isolamento no qual o deixaram! Farão de sua infelicidade um crime! A conclusão é que se castigará um inocente. A outa possibilidade é esse condenado ter família. Nesse caso, como acreditar que, com o golpe que o matará, só ele será ferido? Como assegurar que seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos não estarão também ensanguentados? Não, matando-o, mataremos sua família inteira. Novamente, inocentes serão castigados. Segundo Hugo, a pena de morte é “cega” e confusa: de um jeito ou de outro castiga inocentes. Por usar esse tipo de argumentação, ele era acusado de sentimentalista. A essas acusações respondia dizendo que muitas vezes as razões do sentimento são mais sábias que as razões da razão. No mesmo livro, Victor Hugo defende o fim de todas as penalidades, injustiças e sofrimentos. Seu sonho era que a velha “sociedade de crueldades” desaparecesse e desse lugar a uma sociedade de compaixão e amor ao próximo. Dizia ele: “A doce lei de Cristo penetrará enfim a lei e por ela irradiará luz. O crime será visto como uma doença e esta doença terá seus médicos que substituíram os juízes, seus hospitais que substituíram os cárceres. A liberdade e a saúde serão parecidas. Onde se aplicava o ferro e o fogo, deitar-se-á o bálsamo e o óleo. Tratar-se-á pela caridade e pela compaixão o mal que antes era tratado pela cólera. Será simples e sublime. A cruz substituindo a força. É só.” (Victor Hugo. O Ùltimo Dia de um Condenado à Morte. Rio de Janeiro: Clássicos Econômicos Newton, 1997.)

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