sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O CRISTIANISMO E A EDUCAÇÃO

A divulgação do cristianismo iniciada por Paulo provocou uma grande transformação no mundo – segundo alguns historiadores, a mais importante da história do Ocidente. Uma dessas mudanças refere-se às crianças. Na época de Jesus, ninguém lhes dava importância. Em Roma, a população chegava até a vendê-las. Em sociedades antigas, como a romana ou a grega, as crianças eram severamente castigadas para aprenderem as lições, e os governantes não viam com bons olhos a educação das crianças do povo. Jesus, porém, gostava muito das crianças. Dizia que quem quisesse ser feliz deveria ser igual a elas e ensinou ao mundo que devemos amá-las. Um dos primeiros filósofos do cristianismo, Orígenes, dizia que devemos entender Cristo como um pedagogo (educador) ou um grande mestre, que veio trazer uma proposta de educação para a humanidade. Muitos pesquisadores reconhecem que a educação proposta pelo cristianismo marca a separação entre a maneira de educar pelo castigo e uma nova forma, baseada no amor. O velho sistema de castigos físicos para aprender devia ceder lugar a uma educação do cuidado particular e afetuoso com as crianças. E mais: a educação cristã não era para poucas crianças, como a egípcia e a grega, mas para todos. Na história da humanidade, muitos religiosos e educadores inspiraram-se no cristianismo para lutar por uma educação para todos e baseada no amor. Para eles, as palavras de Cristo – “Ide e ensinai todos os povos” – e sua mensagem de valorização da influência foram de enorme inspiração. Martinho Lutero, por exemplo, queria que todas as crianças fossem às escolas. Em diversos discursos, pediu a todos os governantes que educassem os jovens desamparados. Um dos continuadores de Lutero, Melanchton, foi chamado de “educador da Alemanha”, pois trabalhou a vida toda para que as crianças tivessem educação. Criou diversas escolas por todo o território alemão. Erasmo de Roterdam, humanista cristão holandês da mesma época que Lutero, também entendia o cristianismo como uma proposta de educação e criticavam as escolas que aplicavam castigos e enchiam de temor a alma das crianças. Ele acreditava que a criança deveria ser tratada com amor, assim como Cristo havia ensinado. Dizia ele: Começamos pelos pedantes, que ensinam (...) imersos nas suas escolas que mais parecem prisões, horroroso teatro das bárbaras execuções (...) apesar de tudo (...) julgam-se na vanguarda dos homens. Que ideia atraente não fazem eles dos seus méritos, ao verem tremer, diante da sua carranca e da voz severa e ameaçadora, o bando atemorizado de crianças, ao espancá-las impiedosamente por capricho, ao açoitar as pobres vítimas da sua brutalidade! (...) (Erasmo de Roterdam. Elogio da Loucura, São Paulo: Novo Horizonte, 1986) V O C A B U L Á R I O: ● CARRANCA → expressão carregada, mal humorada; ● PEDANTES → vaidosos, pretensiosos; ● VANGUARDA → frente, dianteira.

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