sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A REALIDADE BRASILEIRA E A REFORMA AGRÁRIA

Vários pensadores discutiram e questionaram o mandamento que diz: “não furtarás”, recebido por Moisés. Na visão de alguns deles, para que esse mandamento seja realmente cumprido, não deve haver no mundo um só necessitado e injustiçado. De acordo com o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), a propriedade privada, isto é, particular, foi criada pelo primeiro ser humano que teve a ideia de cercar uma parte da terra e dizer “isto é meu”.. e encontrou pessoas ingênuas o bastante para acreditar nisso. Se alguém tivesse arrancado as cercas e gritado: “Não, impostor!”, teria livrado a humanidade de inúmeras injustiças, crimes, guerras, assassinatos, desgraças e horrores. Alguns pensadores afirmam que a propriedade é um roubo. Segundo eles, o fim da propriedade privada traria o fim das desigualdades sociais e o nascimento de uma nova forma de sociedade, na qual a igualdade (social e econômica), a liberdade e a solidariedade seriam uma realidade humana. Já houve sociedades assim. As comunidades indígenas brasileiras, por exemplo, desconhecem a propriedade particular. Os primeiros cristãos também pensavam dessa maneira e formaram a primeira comunidade cristã com base na propriedade coletiva. Este poema nos traz alguma reflexões sobre o tema: QUEM É QUE ROUBA QUEM Deus nos mandou não roubar, Roubar o quê? E de quem? Roubar é subtrair Alguma coisa de alguém Em geral, todos condenam O ladrão de mão armada... Mas quem roubou o ladrão, Que não tem direito a nada? Querem a pena de morte (E Deus mandou não matar!) Para quem caiu no crime E vive só de furtar. Mas e quem tem ouro imenso Feito de trabalho escravo E não ajuda o empregado Nem com sorriso ou centavo? Pecado é roubar um tênis? E quem tem terras a arar Não produz e priva o pobre Do direito de plantar? A criança que vagueia Na rua, pedindo esmola, É bandida! E o ladrão Que não a fez ir a escola? As prisões estão lotadas De criminosos, ladrões, De tantos, foi a injustiça Que esfriou os corações! Disse Deus: não furtarás! E ainda ouvimos sua voz! Mas não disse só a uns poucos, Dirigiu-se a todos nós! Só quando todos no mundo Tiverem justiça em vida, Veremos a Lei de Deus Inteiramente cumprida! (Poema de Dora Incontri) DE OLHO NO BRASIL Roubar é subtrair, tirar algo de alguém. Mas é também privar alguém de alguma coisa da qual necessita, impedindo seu acesso a ela. No Brasil ainda estamos muito longe de cumprir o mandamento segundo o qual não devemos roubar. Aqui privamos nosso povo de suas necessidades básicas! Roubamos riquezas! Roubamos informações! Roubamos cultura! Roubamos solidariedade! Roubamos educação! Roubamos terras! Assim, acabamos roubando a vida de milhares de pessoas. O Brasil é um país com muitos analfabetos porque inúmeras crianças brasileiras são impedidas de ir à escola. O bem mais importante para um povo é a sua cultura, mas quantas pessoas no Brasil não tem acesso a cultura que forma um cidadão? E quantas pessoas não têm terra para poder viver e tirar seu sustento? E quantas pessoas estão morrendo de fome? Entre tantas situações injustas em nosso país, uma é especialmente grave: embora o território brasileiro seja tão vasto e os recursos naturais sejam tão abundantes, milhões de pessoas passam fome. Enquanto poucos proprietários possuem a maior parte das terras produtivas, outra parcela imensa de proprietários tem acesso apenas a uma pequena parte dessas terras. Não é contraditório? A terra na mão de poucos resulta em baixo aproveitamento da nossa capacidade de produzir e alimentar o povo. Temos terras suficientes para produzir alimentos para todos, mas infelizmente hoje elas estão alimentando alguns poucos... Um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) de 2010, sobre as causas da fome em nosso país, indica que uma das soluções é a redistribuição de terras, por meio de uma reforma agrária. Segundo o MST – (Movimento dos Sem Terras), há quatro milhões de famílias sem terras no Brasil. A Constituição Federal, assinada em 05 de outubro de 1988, determina que as propriedades rurais que estão improdutivas sejam redistribuídas a pessoas necessitadas apara se tornarem produtivas. Felizmente, tantas pessoas se mobilizam para oferecer melhor condições para o povo e tantas, também, lutam por terras, que temos a esperança de que um dia essa situação de injustiça acabe. O MST é um exemplo: hoje com sua força social bem organizada, é um dos grupos que mais lutam para que todos tenham terras no Brasil. Muita gente, porém, considera as reivindicações do MST exageradas e injustas. Em parte, isso se deve à forma como a mídia, isto é, os meios de comunicação, apresenta o problema para o público. Não se trata, como muitos pensam, de tirar o sítio, a chácara ou a fazenda de quem está plantando. Trata-se apenas de dividir os latifúndios, as propriedades gigantescas que ninguém cultiva. Cumprindo a lei estaríamos mais próximos de cumprir o mandamento “não roubarás”

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