quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A VIDA VIVIDA E RESPEITADA

A Vida é uma bênção de Deus, uma oportunidade, um bem supremo. Ela deve ser bem vivida, conservada, cuidada e amada. A primeira vida que temos o dever de respeitar é a nossa. Ao menos enquanto vivermos na terra, vivemos em um corpo. O corpo, segundo o apóstolo Paulo, é o templo do Espírito. É preciso cuidar dele, pois se trata de uma obra de Deus. Assim, o suicídio é uma enorme ingratidão para com o Criador. Mas devemos entender o suicídio não só como o ato violento e repentino de exterminar a própria vida. O suicídio pode ser lento: a bebida, a droga, o excesso de comida podem tornar-se uma forma de buscar a morte aos poucos. O suicídio muitas vezes, porém, pode ser buscado por indivíduos que não estão mentalmente saudáveis. Depressão ou outras formas de doenças psíquicas podem levar as pessoas ao suicídio. Por isso devem ser tratadas e observadas. E a vida do outro? Você se lembra do sexto mandamento de Deus, que diz, simplesmente, “não matarás”? Não há referência a nenhuma condição: “se”, “quando”, “depende das circunstâncias”. Ele é taxativo, absoluto. Pode significar que jamais devemos tirar a vida de alguém, em nenhuma situação. E por que “pode significar”? Como já vimos nas aulas 06.056 – DEZ MANEIRAS DE SER BOM e também em 07.057 – ENTENDENDO OS MANDAMENTOS, as religiões discutem esse preceito de maneira não muito rígida. Muçulmanos, Católicos, Protestantes e Judeus, por exemplo, podem considerar necessário matar em certas situações, como numa guerra ou para se defender de um ataque. A Igreja Católica pondera que não há culpa em matar em legítima defesa. Alguns cristãos, hindus e budistas, ao contrário, afirmam que em nenhuma circunstância se deve matar: é preferível morrer. Sócrates, Jesus, Gandhi e Martin Luther King deram exemplos sobre isso. Seja como for, a vida do próximo nos é tão sagrada quanto a nossa própria. Isso ninguém discute. Do mesmo modo, devemos respeitar a vida da natureza. Plantas e animais, mares e florestas – Tudo está animado de uma vida intensa e fecunda, e não temos o direito de destruí-la nem de prejudica-la.

DIGA NÃO AO ABORTO!

O VALOR DE UMA VIDA Na Praia a menina Achou uma concha, Uma conchinha lindinha De arrepiar No dia seguinte, As suas amigas Daquela conchinha Iriam gostar. Mas dentro da concha Havia um bichinho, Vivo, vivinho, A respirar. “Se eu levo essa concha”, pensou a menininha, “a vida do bicho vai se acabar”. “Se eu levo essa concha o bicho não vive, mas minhas amigas vão me elogiar.” “Se eu levo essa concha, se eu mato esse bicho, com esse elogio, eu vou me alegrar?” “Se eu deixo a conchinha se eu salvo uma vida ninguém vai saber, mas eu vou gostar.” Então a menina, Com muito cuidado, Deixou a conchinha Nas águas do mar... (Poema de Pedro Bandeira, extraído de: Pedro Bandeira e Márcia Kupstas. Coração de Criança – O Livro dos Bons Sentimentos. São Paulo/Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.) Uma das questões mais polêmicas da atualidade é a do aborto. Hoje são realizados, no mundo, 40 milhões de aborto por ano. No século XX, essa prática foi legalizada em muitos países; em outros, a lei continua proibindo a interrupção da gravidez. Em outros, ainda, como é o caso do Brasil, o aborto é permitido apenas em circunstâncias especiais (quando a gravidez põe a vida da mulher em risco ou quando é resultado de estupro). A maioria das religiões é contrária ao aborto, pois se trata de um desrespeito a uma vida que se inicia. Mas, dentro das próprias religiões, a questão é controvertida: há os que são contra e os que são a favor. No Brasil, as duas religiões mais combativas contra o aborto são a católica e a espírita. Elas consideram crime grave diante de Deus tirar a vida de um feto. Para ambas as correntes, a vida começa no momento da concepção – e matar um ser inocente e indefeso, ainda no ventre da mãe, é algo inadmissível. Houve um médico norte-americano, antes favorável ao aborto, que mudou de opinião. Veja parte de seu testemunho a respeito: Eu sou pessoalmente responsável por 75 mil aborto. Isso me credencia a falar com autoridade sobre o assunto. Fui um dos fundadores da NARAL (National Association for the Repeal of th Abortion Laws – Associação Nacional pela Anulação das Leis Antiaborto), nos EUA, em 1968. Nessa época, uma confiável pesquisa de opinião apontou que a maioria dos americanos era contra a liberação do aborto. Em cinco anos, convencemos a Suprema Corte a aprovar a decisão que legalizou o aborto nos EUA em 1973, inclusive até o momento anterior ao nascimento. Como fizemos isso? É importante entender as táticas utilizadas, pois são as mesmas que tem sido usadas em todo o Ocidente, com algumas pequenas mudanças, sempre com o intuito de mudar leis antiaborto. A PRIMEIRA TÁTICA → foi ganhar a simpatia da mídia. Nós convencíamos os meios de comunicação de que lutar pela liberação do aborto era uma causa liberal, esclarecida e sofisticada. Sabendo que uma pesquisa séria havia sido feita, o que muito nos prejudicaria, nós simplesmente fabricamos resultados de pesquisas fictícias. Anunciamos aos meios de comunicação que pesquisas por nós conduzidas mostravam que 60% dos americanos eram favoráveis à liberação do aborto. Essa é a tática da mentira bem fundamentada. Poucas pessoas gostam de fazer parte da minoria. (...). A SEGUNDA TÁTICA → foi atacar a Igreja Católica. Nós a difamamos e classificamos suas ideais de “socialmente retrógrados”, colocando as autoridades católicas como o vilão que se opunha ao aborto. Esse tema foi exaustivamente explorado. Nós divulgávamos à mídia mentiras tais como: “todos sabemos que a oposição ao aborto vem das autoridades religiosas e não da maioria dos católicos” e “pesquisas comprovam que a maioria dos católicos querem uma reforma na lei contra o aborto”. E a mídia repetia tudo isso, convencendo os americanos de que qualquer um que se opusesse à liberação do aborto deveria está sobre a influência das autoridades católicas, e que os católicos favoráveis ao aborto são esclarecidos e progressistas. Como consequência dessa tática, não havia nenhum grupo não católico que se opusesse ao aborto. O fato de que havia outras religiões, cristãs e não cristãs que eram (e ainda são) definitivamente contra ao aborto foi sistematicamente escondido, assim como a opinião de ateus pró-vida. A TERCEIRA TÁTICA → era denegrir e suprimir toda evidência de que a vida se inicia na concepção. Muito me perguntam o que me fez mudar de pensamento. Como passei de destacado defensor do aborto a advogado pró-vida? Em 1973, tornei-me diretor de Obstetrícia de um grande hospital na cidade de Nova Iorque e tive de iniciar uma unidade de pesquisa pré-natal, a fim de desenvolver uma nova tecnologia que hoje nos permite estudar o feto no útero. Uma das táticas pró-aborto favoritas é insistir que é impossível definir quando a vida se inicia; que essa questão é teológica, moral ou filosófica, e não científica. A fetologia, ramo da obstetrícia que estuda o feto, tornou inegável a evidência de que a vida se inicia na concepção e requer toda proteção cuidado que qualquer um de nós necessita. Por que então, vocês podem perguntar, alguns médicos americanos, cientes das descobertas da fetologia, desmoralizam a si mesmos fazendo abortos? Simples aritmética: a US$ 300 cada, 1,55 milhão de abortos somam US$ 500 milhões anuais, a maior parte dos quais vai para o bolso dos médicos que faz o aborto. É claro que a liberação do aborto é claramente a destruição do que é, inegavelmente, uma vida humana. É um inadmissível ato de violência. (...) (Extraído de: Dr. Bernard Nathansen. “Confissões de um ex-abortista”, www.aboutabortions.com. Traduzido para fins didáticos.)

AMIZADE É PARA SEMPRE?

Ninguém vive sem amigos. Em todas as sociedades, em todos os tempos, a amizade tem sido considerada um valor essencial, pois todo ser humano precisa de alguém em que possa confiar, para quem confidenciar problemas e partilhar alegrias... Mas será que todo mundo sabe ser amigo? Será que é fácil encontrar um bom amigo? Será que um amigo dura para sempre? Como se rompe uma amizade? BEBENDO NA FONTE GREGA A AMIZADE DO FILOSÓFO Aristóteles, em sua obra-prima Ética a Nicômaco,, defendeu a amizade como uma virtude. (...) cabe-nos examinar a natureza da amizade, pois ela é uma forma de excelência moral ou é concomitante com a excelência moral, além de ser extremamente necessária na vida. De fato, ninguém chega a viver sem amigos, mesmo dispondo de todos os outros bens. (...) os amigos estipulam as pessoas na plenitude de suas forças a práticas de ações nobilitantes (...). Quando as pessoas são amigas, não têm necessidade de justiça, enquanto mesmo quando são justas elas necessitam de amizades; considera-se que a mais autêntica forma de justiça é uma disposição amistosa. E a amizade não é somente necessária; ela também é nobilitante, pois louvamos as pessoas amigas de seus amigos, e pensamos que uma das coisas mais nobilitantes é ter muitos amigos; além disso, há quem diga que há bondade e a amizade se encontram nas mesmas pessoas. (Aristóteles, Ética a Nicômaco, 1115 a, Livro VIII, 1. Brasília: Ed. Da UnB, 1999.) UM AMIGO DE VERDADE Há muitas coisas que podem ser ditas a respeito da amizade verdadeira. Amigo é aquele que se preocupa com a felicidade do outro, com sua saúde, com sua realização. Amigo é aquele que nunca trai a confiança, sempre está por perto, na alegria e na dor. O amigo não conta fofoca a respeito do amigo; não sente inveja se o outro ganhou, comprou ou conseguiu alguma coisa que ele não tem; não guarda mágoa. O amigo alegra-se conosco, sofre conosco e sabe perdoar. Amigo não é só companhia para a diversão. Às vezes, as pessoas confundem as coisas, achando que amigos são aqueles que com elas saem para passear e se divertir. Mas, na hora de uma necessidade, a gente vê que nem sempre os companheiros de farra são os que estão do nosso lado. Será que amigos só são pessoas da mesma idade, que se encontram entre colegas de estudo, de trabalho, de diversão? Não só. Pais, irmãos, avós, professores podem ser grandes amigos. Geralmente, acha-se que amigo é uma coisa, família é outra. Não é verdade. Uma das maiores felicidades é quando conseguimos ter felicidade íntima com as pessoas com quem convivemos todos os dias: significa ter confiança para trocar confidências dentro da própria família e conversar sobre os assuntos que nos afligem ou nos alegram. Isso depende muito da atitude que os mais velhos têm. Se eles só sabem gritar ou punir, fica difícil o filho ou o aluno se abrir e confiar. Mas o adolescente e o jovem também podem tentar um diálogo amistoso para criar uma relação de confiança e carinho. Também acontece de alguém procurar companhias apenas para apoiar suas fraquezas. Há gente que acha que só é amigo quem concorda com tudo. Quem quer amigo assim, não quer amizades, quer bajulação. Amigos podem e devem dar bons conselhos, quando preciso, e ficar preocupados quando o outro está enveredando por um caminho errado. Por isso, às vezes, alguns jovens não gostam de ter amizade com os mais velhos, pois sabem que receberão conselhos que às vezes não querem ouvir. Uma pergunta surge no coração das pessoas: a amizade um dia acaba? Quem já foi nosso verdadeiro amigo um dia poderá deixar de ser? Amizade verdadeira nunca acaba, popis não deixamos de gostar de alguém. Se acabar, é porque não era amizade. Se alguém trair, ferir, desrespeitar gravemente um amigo é porque nunca foi amigo de fato. Os caminhos da vida é que podem afastar os amigos. Mudanças de cidade, de país, de rumos profissionais, questões familiares, a correria do mundo contemporâneo – Tudo isso pode distanciar quem se gosta. Mas não é que amizade tenha acabado. Quando há um reencontro, tudo pode continuar como antes. E a alegria pode redobrar por ter novamente próximo alguém que a vida havia afastado. Jesus deu um dos maiores testemunhos de amizade que já se viu. Na última ceia, antes de ser crucificado, quando estava se despedindo dos amigos, falou sobre seu amor por eles.. Eis o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que se despoja da vida por aqueles a quem ama. Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo permanece na ignorância do que faz o seu senhor; chamo-vos amigos, porque tudo o que ouvi do meu Pai vo-lo fiz conhecer. (João 15.12-17. Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Edições Loyola e Paulinas, 1996.)

NAMORO OU AMIZADE?

É possível que pessoas de sexo diferentes sejam amigas, sem que a amizade se torne paquera ou namoro? E no namoro e no casamento, homem e mulher podem ser também amigos? Já passou o tempo em que se achava que homens e mulheres não podiam ter amizade sincera sem que surgisse alguma coisa a mais. É perfeitamente possível uma amizade entre os dois sexos. O que diferencia a amizade de algo a mais é que, quando se quer namorar, a relação torna-se mais profunda, mais exclusiva (as duas pessoas querem ficar sozinhas uma com a outra), e também dá vontade de ter mais intimidade física. Mas, se é possível ser amigo sem namorar, também não é bom namorar ou casar com alguém sem ter uma grande amizade. Isto é, na relação entre homem e mulher, não basta estar apaixonado ou sentir atração física; é preciso haver amizade: gostar de estar junto, de conversar, não esconder segredos. É justamente a amizade que mantém a união profunda entre o casal. PARA QUE SERVE O NAMORO? Há algumas décadas atrás, no tempo de nossos avós, o namoro era um período de convivência, conhecimento e preparo para um relacionamento mais profundo e, se fosse o caso, para o casamento. Ou seja, o namoro quase nunca envolvia intimidade física. Namorar era ter uma relação leve, com muito romantismo. Relacionar-se sexualmente seria um tremendo compromisso entre dois jovens. Na maioria das famílias, era questão de honra que a moça se casasse virgem. Com os rapazes havia mais liberdade, porque era uma sociedade muito machista: em relação ao sexo os direitos do homem e da mulher não eram iguais. A partir da década de 1960, as mulheres começaram a ter maior liberdade sexual, a exemplo dos homens, o que é positivo. Mas, hoje em dia, o sexo começa cada vez mais cedo e com menor compromisso. Muita gente pensa que o namoro, seja em que idade for, deve vir acompanhado de sexo. Tornou-se quase uma vergonha um adolescente – menina ou menino – dizer que ainda não “transou”. Isso não é bom, pois os jovens se sentem pressionados a precipitar-se em uma experiência sexual para a qual não estão preparados. É preciso refletir sobre esse assunto, pois não é nos extremos que está a virtude. Se não era aquele radicalismo dos tempos dos nossos avós, hoje também há problemas, gerados pela excessiva liberdade. Quando o adolescente já “experimenta” de tudo desde cedo, as coisas vão perdendo a graça, o romantismo, o momento certo... Psicólogos e pedagogos são unânimes: muitas vezes a pessoa pode estar madura fisicamente para iniciar-se sexualmente e até ter um filho, mas pode não estar madura emocionalmente. O que significa maturidade nesse caso? É saber que ter um relacionamento sexual com outra pessoa é um ato de compromisso e de amor, que envolve responsabilidade por si mesmo e pelo outro. É preciso ter respeito pelo próprio corpo, com todos os cuidados para manter a saúde. É preciso, também, ter respeito pelo corpo do outro, preocupando com seu bem-estar. E ainda levar em conta os próprios sentimentos e os sentimentos do outro. Acima de tudo, é necessário saber que, para namorar e mais tarde casar, é importante que existam muitas afinidades, muito amor, muito companheirismo, muita vontade de estar junto, muitos ideais partilhados. Só assim o relacionamento será feliz, produtivo e duradouro. Num relacionamento assim, o sexo é uma parte importante, mas não é a principal. Quando a gente escolhe alguém mais pela atração física, depois enjoa e escolhe outro, e depois outro e ainda outro, acaba sem saber de fato o que é um relacionamento maduro, sólido e feliz.

AS VIRTUDES DE CADA DIA

Dizer “obrigado”, “por favor”, ser amável, ficar agradecido, ser generoso, agir com honestidade em qualquer circunstância... Essas atitudes podem parecer coisa fácil ou de pouca importância, mas se relacionam com virtudes essenciais para amarmos o próximo e vivermos bem. Para comprovar isso, basta pensar no seguinte: já usaram de grosseria com você, já mentiram, já lhe negaram um favor simples? Você se sentiu magoado ou ferido? Então, lembre-se da máxima “não faça aos outros o que não quer para si mesmo” e verá a necessidade de cultivarmos no dia a dia as virtudes de que falaremos a partir de agora. A GRATIDÃO A gratidão é uma forma de justiça, pois se trata, em primeiro lugar, de reconhecer um bem que alguém nos fez. Mas vai além da justiça, porque deve partir de um sentimento bom e bonito, que nos faz querer bem ao outro e retribuir na medida do possível o que dele recebemos. Demonstrar gratidão não é apenas dizer “obrigado”, “grato”, “agradecido”, “Deus lhe pague”. Ela está além das palavras; deve ser sentimento e ação, espontaneidade e dever. Gratidão a quem? Em primeiro lugar a Deus, se nEle acreditamos, pois Ele nos criou, nos deu vida, nos ama e vela por nós. Gratidão a nossos pais, que nos deram a vida do corpo e muito mais: o amor, a instrução, a presença... até mesmo aos maus pais devemos ter gratidão pelo nosso nascimento. Além da gratidão a Deus e a nossos pais, devemos ter gratidão a quem nos ensina, a quem nos quer bem, a quem nos ajuda, a quem, pelo nosso bem-estar e nossa felicidade. BEBENDO NA FONTE CRISTÃ Infelizmente, a gratidão é um sentimento bem, raro entre os seres humanos, que muitas vezes se esquecem dos benefícios recebidos. Esta passagem do Evangelho de Lucas conta como nem sempre as pessoas ajudas por Jesus mostravam sua gratidão: Ora, como Jesus caminhasse para Jerusalém, passou através da Samaria e da Galileia. Ao entrar numa aldeia, dez leprosos vieram ao seu encontro. Eles paravam a distância e elevaram a voz para lhe dizer: “Jesus, Mestre, tem piedade de nós”. Vendo-os, Jesus lhe disse: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes”. Ora, enquanto iam, foram purificados. Um dentre eles, vendo que estava curado, voltou dando glória a Deus em alta vozes. Lançou-se de rosto em terra aos pés de Jesus, rendendo-lhe graças; ora, era um samaritano. Então Jesus disse: “Acaso os dez não foram todos purificados? E os outros nove, onde estão? Não se achou ninguém entre eles para voltar e dar glória a Deus a não ser este estrangeiro!” E Ele lhe disse: “Levanta-te, vai. A tua fé te salvou”. (Lucas 17.11-19. Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Edições Loyola/Paulinas, 1996.)

A HONESTIDADE E A GENEROSIDADE

Será que a honestidade de uma pessoa depende da situação? A pessoa honesta não mente, não engana, não explora, não trapaceia. Pode estar numa atividade simples, como num jogo de cartas entre amigos, ou pode está em circunstâncias que envolvam muito dinheiro e muitos interesses. A honestidade é sempre igual. Todo mundo sabe o que é ser honesto. Nem é preciso explicar. Quando nos relacionamos com uma pessoa que age com honestidade, temos uma sensação de segurança e tranquilidade, pois sabemos que podemos confiar, que ela não trairá nossa confiança. Imagine se as relações entre os seres humanos pudessem ser sempre assim! Viver em sociedade e sentir-se sempre tranquilo em relação ao comportamento dos outros! Mas o primeiro passo para, quem sabe, um dia atingimos esse ponto é sermos nós mesmos honestos. Há gente que pensa que ser honesto é “ser burro”, é deixar de aproveitar as oportunidades. Acontece que às vezes a honestidade exige que a gente renuncie a certas vantagens (se essas vantagens for prejudiciais ao próximo). Mas a maior vantagem é justamente ser honesto, para poder dormir à noite com a consciência tranquila. BEBENDO NA FONTE ISLÂMICA No Alcorão há várias passagens que recomendam a honestidade nos negócios e nas relações humanas. Um desses trechos é o seguinte: Utilizai medidas exatas, Não sejais daqueles que trapaceiam. Pesai com uma balança justa, Não prejudiqueis as pessoas Naquilo que lhes pertence; Não sejais malfeitores sobre a Terra, Corrompendo-a. (Alcorão, XXXVI, 181-183. Le Coran. Paris: Gallimard, 1967. Traduzido para fins didáticos.) A GENEROSIDADE Honestidade e gratidão são deveres básicos e formas de justiça. Mas a generosidade vai além de dar a cada um o que lhe é devido. É uma virtude sem medidas, que transborda, porque se trata de dar em abundância, além do que é justo. É sentir alegria em favorecer o outro com nossa doação de bens materiais e espirituais, de bondade e de amizade, sem espera de recompensa, sem interesse nenhum. O filósofo René Descartes dizia a respeito: Os que são generosos são naturalmente levados a fazer grandes coisas, e todavia a nada começar de que não se sintam capazes. E porque eles não estimam nada maior do que fazer bem aos outros e desprezar seu próprio interesse, são por isso sempre perfeitamente corteses, afáveis e prestativos com todos. (René Descartes. Traité des passions (O tratado das paixões). http://www.chez.com. Traduzido para fins didáticos.)

NÃO JULGUE PARA NÃO SER JULGADO

Jesus recomendou a generosidade sem limites. Embora ele se refira às recompensas da generosidade, não significa que devemos praticá-la pensando em qualquer retribuição das pessoas ou de Deus, porque senão o ato deixa de ser generoso. Sede generosos como vosso Pai é generoso. Não vos arvoreis em juízes, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; absolvei, e sereis absolvidos, dai e ser-vos-á dado. É uma boa medida, socada, sacudida, transbordante, que derramarão nas dobras da vossa veste, pois a medida de que vos servis servirá também de medida para vós. (Lucas 6.36-38. Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Edições Loyola/Paulinas, 1996.) A DOÇURA Você também pode chamar a doçura de amabilidade, mansidão – dá quase na mesma. Essa é uma virtude que faz parte do amor ao próximo. É tratar o outro com carinho e gentileza, é deixar as palavras duras e agressivas de lado. A doçura, porém, não pode ser uma forma de falsidade, porque é muito fácil imitá-la. A imitação da doçura pode disfarçar uma agressividade muito pior do que a agressividade assumida. Ser doce e verdadeiro, ser sinceramente amável: eis a questão. BEBENDO NA FONTE JUDAICO-CRISTÃ No AT → Antigo Testamento já se recomendava a doçura como uma virtude: As palavras amáveis são um favo de mel, doce ao paladar, salutar para o corpo. (Provérbios 16.24. Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Edições Loyola/Paulinas, 1996.) Palavras amáveis multiplicam os amigos, uma língua afável multiplica as palavras corteses. (Sirácida (Eclesiástico) 6.5 – Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Edições Loyola/Paulinas, 1996.) UMA HISTÓRIA SOBRE HONESTIDADE Conta-se que, por volta do ano 250 a.C., na China antiga, um príncipe da região norte do país estava às vésperas de ser coroado imperador, mas, de acordo com a lei, ele deveria se casar. Sabendo disso, ele resolveu fazer uma “disputa” entre as moças da corte ou quem quer que se achasse digna de sua proposta. No dia seguinte, o príncipe anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e lançaria um desafio. Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, sabia que sua filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe. Ao chegar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao saber que ela pretendia ir à celebração, e indagou incrédula: - Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as mais belas e ricas moças da corte. Tire essa ideia insensata da cabeça; eu sei que você deve estar sofrendo, mas não torne o sofrimento uma loucura. E a filha respondeu: - Não querida mãe, não estou sofrendo e muito menos louca; eu sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, e isso já me torna feliz. À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais belas moças, com as mais belas roupas, as mais belas joias e as mais determinadas intensões. Então, inicialmente, o princípe anunciou o desafio: - Darei a cada uma de vocês uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura imperatriz da China. (...) O tempo passou e a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura da sua semente, pois sabia que, se a beleza da flor surgisse na mesma extensão do seu amor, ela não precisaria se preocupar com o resultado. Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido. Dia após dia ela percebia cada vez mais longe o seu sonho, mas cada vez mais profundo o seu amor. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado. Consciente do seu esforço e dedicação, a moça comunicou à mãe que, independentemente das circunstâncias, retornaria ao palácio, na data e hora combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos na companhia do príncipe. Na hora marcada estava lá, com seu vaso vazio, bem como todas as outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela dio que a outra, das mais variadas formas e cores. Ela estava admirada, nunca havia presenciado tão bela cena. Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a bela jovem como sua futura esposa. As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém compreendeu por que ele havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado. Então, calmamente, o príncipe esclareceu: - Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz. A flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis. (Extraído de: “Quem seria a escolhida?”. Possibilidades – Percepções e estratégias para suas inteligências. http://www.possibilidades.com.br)

O BRASIL E A CORRUPÇÃO

O Brasil passou da 80ª para a 75ª no novo relatório anual da Transparência Internacional (TI) sobre corrupção. O país figura ao lado de colômbia, Peru e Suriname, todos com nota 3,7. Apenas 51 dos 180 países avaliados pontuaram acima de 5. A Nova Zelândia ficou em primeiro lugar, com nota 9,4, sendo considerado o país menos corrupto do mundo. As nações em que há conflitos armados em andamento continuam figurando como os mais corruptos. Somália, Afeganistão, Mianma, Sudão e Iraque ocupam as piores posições no ranking, segundo o estudo, elaborado com base na percepção de corrupção no setor público em 180 países e em sondagens com empresários e especialistas. A nota da Somália foi 1,1 numa escala de zero a dez. (Eduardo Simões. “Brasil é o 75º país em ranking da corrupção, diz ONG”, Estadão, 17/11/1999. http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,brasil-ocupa-75-lugar-em-ranking-de-corrupcao-diz-ong,467722,0.htm.)

A MISSIOÁRIA DA CARIDADE

No século XX, uma das mais belas vidas dedicadas ao próximo foi a de uma mulher: MADRE TERESA DE CALCUTÁ. Ela nasceu em 1910, na Albânia, e se chamava Agnes. Desde os 12 anos de idade, ao ouvir histórias de missionários que iam à Índia, ficava empolgada, até que resolveu se dedicar à vida religiosa. Saiu de casa aos 18 anos, para nunca mais voltar. Foi estudar numa congregação de freiras missionárias na Irlanda e, de lá, logo rumou para a Índia, o destino de sua vida. Durante 20 anos foi professora de História e Geografia em um colégio de meninas ricas. Mas, segundo ela, ouviu um chamado de Jesus para dedicar-se aos mais pobres. Teresa, então, foi viver ao lado dos mais miseráveis, nas ruas de Calcutá, cidade indiana. Daí em diante, seu trabalho desabrochou mundo afora. Fundou a congregação “Missionárias da Caridade”, que hoje se espalha mundialmente, e dedicou o resto da vida a cuidar de quem mais precisava, defender a paz e a lutar pela vida. São suas as seguintes palavras: “O fruto do silêncio é a oração; o fruto do coração é a fé; o fruto da fé é o amor; o fruto do amor é o serviço; o fruto do serviço é a paz”. Em 1979, Madre Teresa recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Faleceu em 05 de setembro de 1997. Em outubro de 2003, recebeu nova homenagem: a beatificação. Veja um pequeno trecho do discurso proferido, pelo papa João Paulo II: “Não há dúvida de que a nova Beata foi uma das maiores missionárias do século XX. Desta mulher simples, proveniente de uma das árias mais pobres da Europa, o Senhor fez um instrumento eleito (cf. Atos dos Apóstolos 9.15) para anunciar o Evangelho a todo o mundo não com a pregação, mas com gestos cotidianos de amor em benefício aos mais pobres. Missionária com a linguagem mais universal: a linguagem da caridade sem limites nem exclusões, sem preferências, a não ser em relação aos mais abandonados”. (Extraído de: “Discurso do papa João Paulo II aos peregrinos vindos à Roma para a beatificação de Madre Teresa de Calcutá”. 20/10/2003. http://www.vatican.va)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A EDUCAÇÃO RELIGIOSA NA ESCOLA

O Objetivo da Educação Religiosa na escola é somar com a Educação integral, possibilitando o conhecimento e a experiência da dimensão transcendente da vida humana, em âmbito pessoal, comunitário, cultural e universal. Servir como ponto de apoio e sugestão, esclarecendo a importância da Educação Religiosa como apoio interdisciplinar, com atividades participativas, e não como centro da prática pedagógica. É uma disciplina com propostas alternativas à uma sociedade secularizada e uma redescoberta e ressignificação da transcendência, de suas manifestações, do sentimento que ela trás para a vida e da postura ética-relacional que ela propõe.

CADA UM COM SUA CRENÇA

Todo mundo acredita em alguma coisa. Certamente, você também. Aquilo em que acreditamos faz parte do que somos. Por exemplo, se acreditamos no bem, procuramos ser bons. Por isso, é tão importante, conhecer todas as crenças, saber bem qual delas é a nossa e agir de acordo com aquilo que acreditamos. Em nossas aulas, vamos estudar crenças e pessoas que viveram sua fé com sinceridade e amor. Vamos estudar também pessoas que até iniciaram novas formas de fé. Conhecendo estes seres humanos especiais e os valores que praticavam, você terá condições de pensar melhor na sua própria fé e respeitar mais a fé dos outros. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Há alguns direitos e deveres do ser humano que a maioria dos povos hoje em dia considera válido para todos. São como leis ou princípios que todas as pessoas do mundo são convidadas a seguir para terem um convívio melhor. Esses princípios estão reunidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Vamos ver alguns desses direitos. Art. I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. Art. II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. (...) Art. XVIII – Toda pessoa tem direito a liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. Art. XIX – Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. (Extraído de: http://www.direitoshumanos.usp.br)

PARA QUE SERVE A RELIGIÃO?

Desde que existe no mundo o ser humano sempre teve algum tipo de religião. Deuses, espíritos, forças da natureza – em todos os tempos, a humanidade acreditou em alguma coisa. Mas, o que é uma religião? Será que é possível achar uma só forma de explicar algo tão complexo e rico? Podemos seguir algumas pistas... Por exemplo, geralmente, as pessoas procuram na religião a respostas a certas perguntas muito difíceis, mas que todo ser humano gostaria de ver respondidas: por que existe o mundo? Quem criou o Universo? Para que nascemos? Existe vida depois da morte?... E muitas outras perguntas. As religiões possibilitam que as pessoas se relacionem com forças ou seres que elas não veem, mas nos quais acreditam: deuses, espíritos ou então um só Deus – como é o caso do judaísmo, do cristianismo e do islamismo, por isso chamados religiões monoteístas. Muitas vezes as pessoas sentem medo; outras vezes, experimentam amor, adoração, emoção para com algo invisível. Sentem que, além daquilo que podem ver, ouvir e tocar, existe esse “algo”. É esse “algo” – misterioso e comovente – que faz parte das religiões. O mais importante de tudo é que as religiões nos ensinam uma forma melhor de viver. Elas nos dão princípios. Solidariedade, amor ao próximo, piedade e justiça, por exemplo, são ideais que a religião propõem. Podemos, então, dizer que as religiões em geral ensinam ao ser humano que ele é capaz de melhorar, ser mais feliz, conquistar a si mesmo e ser mais solidário com o outro! Você pode pensar: mas tantas vezes aconteceram e ainda acontecem terríveis guerras religiosas; tanta gente matou e ainda mata em nome da religião! Ou você pode, ainda, lembra-se de alguém que segue uma religião e mesmo assim é uma pessoa que pratica atos maus e desonestos. Será que isso quer dizer que as religiões são ruins? Não; de modo algum! É que às vezes as pessoas estragam as coisas mais sagradas. A responsabilidade é delas e não das religiões. Em nossas aulas, você vai conhecer personalidades que viveram de verdade uma fé, com justiça, e sabedoria e amor. Seu exemplo nos mostra que é possível ao ser humano ser bom. Algumas das pessoas de quem estudaremos fundaram religiões: é o caso dos seguidores de Jesus, Buda e Maomé. Outras apenas seguiram alguma religião, mas assumiram tão bem a sua fé que vale a pena nos inspirarmos nelas.

RAÍZES RELIGIOSAS DO BRASIL

Antes da chegada dos portugueses às terras onde hoje é o Brasil, aqui já estavam os índios que tinham suas próprias crenças e rituais. Os portugueses trouxeram a religião Católica com os missionários jesuítas, com os padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega. Pouco depois, os africanos foram trazidos da África como escravos também com todos os seus costumes e crenças, muito variados de um grupo para outro. Anos mais tarde, aportaram aqui os imigrantes alemães, japoneses, italianos, árabes, etc, e vários desses grupos trouxeram outras formas de religião e outras igrejas. Mesmo com toda a diversidade de crenças existente no Brasil, durante muito tempo quem não fosse católico era malvisto e até perseguido. Hoje, estamos aprendendo a conviver em paz e com respeito. A POESIA E OS ÍNDIOS O poeta Castro Alves, no século XIX, admirava a coragem dos jesuítas, que vinham ao Brasil com o ideal de pregar a fé cristã aos indígenas. Em um de seus poemas escreveu: O martírio, o deserto, o cardo, o espinho, A pedra, a serpe do sertão maninho, A fome, o frio e a dor, Os insetos, os rios, as lianas, Chuvas, miasmas, setas e savanas, Horror e mais horror... Nada turbava aquelas frontes calmas, Nada curava aquela grandes almas, Voltadas p’ra amplidão... No entanto, eles só tinham na jornada Por couraça – a sotaina esfarrapada... E uma cruz – por bordão. (Castro Alves. Trecho do poema “Jesuítas”, do livro Espumas Flutuantes. Cotia: Ateliê Editoria, 2005) Os jesuítas queriam ensinar aos índios sobre Jesus e não lhes faziam mal, mas havia com eles homens que guerreavam e escravizavam os indígenas – e algumas vezes os jesuítas não ofereceram a oposição que deveriam. Hoje, muita gente critica essa postura dos jesuítas, embora reconheça sua importância como primeiros educadores do Brasil. Outro poeta da mesma época de Castro Alves, Gonçalves Dias, imaginou os índios orando a um de seus deuses, Tupã, para se queixar dos brancos que chegaram e destruíram suas tribos. Tupã, ó Deus grande! Teu rosto descobre: Bastante sofremos com tua vingança! Já lágrimas tristes choraram teus filhos, Teus filhos que choram tão grande mudança. (Gonçalves Dias. Trecho do poema “Deprecação”, do livro Primeiros Contos. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.) O CANDOMBLÉ BRASILEIRO Quando os africanos foram trazidos para o Brasil, trouxeram consigo suas crenças e tradições. Mas muitas vezes, eles foram proibidos de cultuar sua fé. Um grande estudioso do Candomblé no Brasil foi o francês Roger Bastide, que percorreu o país pesquisando o assunto, nas décadas de 1940 e 1950. E ele conta de forma poética: “Ao longo de todo o litoral atlântico, desde as florestas da Amazônia até a própria fronteira do Uruguai, é possível, descobrir no Brasil, sobrevivências religiosas africanas. Mas, a Bahia, com seus candomblés em que, nas noites mornas dos trópicos, as filhas de santo dançam ao martelar surdo dos tambores, permanece a cidade santa por excelência. Os candomblés pertencem a “nações” diversas e perpetuam, portanto, tradições diferente (...). É possível distinguir essas “nações” uma das outras pela maneira de tocar o tambor (seja com a mão, seja com varetas), pela música, pelo idioma dos cantos, pelas vestes litúrgicas e, algumas vezes, pelos nomes da divindades.” (Roger Bastide. O candomblé da Bahia. São Paulo: Companhia das Letras, 2001) A CONSTITUIÇÃO E AS RELIGIÕES Hoje em dia, a lei brasileira garante o respeito a todas as religiões e culturas. Veja o que dia a Constituição brasileira, a lei máxima que rege o nosso país, assinada em 05 de outubro de 1988: Art. 5º (...) VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias. (Extraído de: http://www.senado.gov.br) G L O S S Á R I O BORDÃO →Bastão para apoio. CARDO →Plantas de folhas espinhosas. COURAÇA →Armadura DEPRECAÇÃO →Súplica FILHAS DE SANTO →Sacerdotisas INVIOLÁVEL →Acima da justiça, protegido LIANAS →Trepadeiras semelhantes a cipó LITÚRGICAS →Utilizadas nos rituais religiosos MANINHO →Selvagem MARTÍRIO →Sofrimento MIASMAS →Podridões POR EXCELÊNCIA →No mais alto grau SAVANAS →Planícies de regiões trópicas SERPE →Serpente SOTAINA →Batina de padre

A REVELAÇÃO DE DEUS A UM POVO

Você certamente já ouviu falar em deuses, mas as pessoas não costumam exclamar “meus deuses!”, ou se despedir de alguém dizendo: “vá com os deuses”. Sempre falamos “Deus”, no singular, e o escrevemos com letra maiúscula. Esse Deus, que é um só e a quem nos referimos no dia a dia, tem uma história. Há mais de quatro mil anos atrás, todos os povos do mundo acreditavam em muitos deuses. Mas houve um povo que adotou o monoteísmo, isto é, a crença em um só Deus: o povo hebreu, também chamado “povo de Israel”. É dele que descendem os atuais judeus. A BELEZA DO SALMO 23: 1 O Senhor é meu pastor e nada me faltará. 2 Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente às águas tranquilas. 3 Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. 4 Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, mal algum eu temeria, porque tu estás comigo, a tua vara e o teu cajado me consolam. 5 Preparas uma mesa perante mim, na presença de meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo e meu cálice transborda. 6 Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias de minha vida e habitarei na casa do Senhor por longos dias! – (Bíblia – Livro dos Salmos – Trad. João Ferreira de Almeida. Os Gideões Internacionais) G L O S S Á R I O: CAJADO → Bastão do pastor; REFRIGERA → Alivia, consola; UNGES → Aplicação de óleo abençoado; VEREDAS → Caminhos.

UM ENVIADO DE DEUS

A História do povo hebreu é contada na Bíblia. Por volta de 1600 anos aC, os hebreus estavam numa situação muito difícil: eles haviam ido para o Egito por causa da cerca que devastara a região onde viviam, mas acabaram sendo escravizados pelos Egípcios. Ao que parece, lá ficaram por pouco mais de quatrocentos anos. O Egito era uma nação poderosa, governada pelo faraó, uma espécie de rei que o povo considerava divino. No princípio, quando os hebreus chegaram ao Egito, foram bem tratados, mas, tempos depois, houve um faraó que começou a cometer injustiças e violências contra eles. Foi nessa época que o Senhor Deus dos hebreus escolheu um deles para mostrar a sua força aos poderosos egípcios. O nome do escolhido era Moisés. A história de Moisés é muito interessante. Ele nasceu de pais hebreus, mas foi criado pela filha do Faraó. Para conter o crescimento da população hebreia, o faraó havia mandado matar todos os meninos hebreus e só deixar viver as meninas. A mãe de Moisés, então, o pôs dentro de um cestinho, sobre as águas do Nilo, e deixou a irmã do menino observando de longe o que iria acontecer com ele. O que se seguiu foi que a filha do faraó encontrou o pequeno e salvou, adotando-o como filho e fazendo com que fosse criado com todo o conforto. Assim, o nome “Moisés” significa “eu o tirei das águas”. Moisés foi criado com afeto pelos egípcios, mas, depois de crescido, começou a se aborrecer por ver seus irmãos hebreus sendo maltratados: eles eram obrigados a trabalhar duro e eram chicoteados se desobedecessem. Um dia, Moisés viu um egípcio agredir um hebreu e, revoltado, o matou. Para escapar à vingança do faraó, fugiu do Egito e foi para as terras de Midiã. Lá, casou-se com Zípora, uma pastora de ovelhas e com ela teve dois filhos. Depois de anos, houve um dia em que Moisés recebeu um chamado. Foi o próprio Deus que lhe apareceu – embora Moisés tenha fechado os olhos por temor de olhar – e disse que sabia dos sofrimentos do povo judeu no Egito. Mandou Moisés voltar e libertar seus irmãos escravizados. Para isso lhe daria o poder de guiar os hebreus através do deserto até chegarem a uma terra onde haveria “leite e mel” – uma forma de dizer que essa era a terra prometida, a terra de Israel. Moisés, com a ajuda de seu irmão Aarão, fez o que lhe fora ordenado por Deus. Os dois pediram ao faraó que deixasse seu povo partir, mas ele ignorou o pedido. A partir de então, muitas desgraças começaram a acontecer ao povo egípcio: a água do Rio Nilo virou sangue; mosquitos, gafanhotos e rãs, invadiram as terras, as casas, os templos e os palácios egípcios; houve chuvas de pedra e pestes acometeram os animais. Toda vez que uma desgraça acontecia, o Faraó dizia a Moisés e a Aarão que, se pedissem a Deus que tivessem piedade, ele deixaria os hebreus partirem. Deus atendia o pedido, mas o faraó não cumpria a promessa. Só depois de muitas desgraças o faraó consentiu que partissem, mas, assim que o povo começou a ir embora, arrependeu-se e quis impedir. Então Moisés e Aarão resolveram que todos deveriam fugir. E assim fizeram. Os egípcios perseguiram os hebreus até chegarem ao mar. Mas Deus, por intermédio de Moisés, abriu o mar em dois, deixando o povo passar. Quando os egípcios iam atravessar, o mar novamente se fechou e eles não puderam alcançar os hebreus. Moisés conduziu seu povo através do deserto, sempre lhe prometendo a terra de que Deus falara. No caminho, quando pararam no deserto do Sinai, diante de uma montanha, Deus novamente se revelou a Moisés e lhe deu os dez mandamentos, as leis que passaram a dirigir o povo judeu. Muitas delas até hoje orientam nossa vida. Quando finalmente avistaram a terra prometida, onde os hebreus iriam viver, Moisés, já muito velhinho, morreu. Havia conduzido seu povo até ali, mas não conseguiu entrar nas novas terras que iam conquistar.

A RELIGIÃO DOS EGÍPCIOS

Como outros povos daquela época, os egípcios acreditavam em muitos deuses: alguns deles eram metade humanos, metade animais, outros eram inteiramente humanos. Havia estátuas para representar esses deuses; e cada um tinha uma função particular. Houve um faraó chamado Akhenaton, que, com alguns sacerdotes, resolveu adotar um deus único: o deus Sol. Mas o povo egípcio não aceitou isso e continuou com seus muitos deuses. Veja alguns deles: O deus supremo Osíris, ladeado pelo Hathor, deusa da dança e da música Filho Hórus e pela mulher Ísis Amun, um dos deuses Ptá, deus dos artesãos criadores do Universo. e da escrita. Thot, deus da Lua e da Sabedoria. Justamente por causa desse culto aos deuses, cheio de imagens tão comuns na Antiguidade mas que hoje em dia nos parecem estranhas, é que os hebreus insistiram nessas duas ideias: que Deus é único e que não deve ser cultuado em imagens. A religião judaica nunca fez estátuas ou pinturas representando Deus. Ela considera que é pelo amor demonstrado, ao cumprir os mandamentos de Deus, que prestamos homenagem a Ele. Os Israelitas continuaram em sua caminhada e acamparam no deserto do Sinai. Uma manhã, ouviu-se o som estridente de trombetas no alto da montanha, acompanhado de relâmpagos e trovões. O povo pôs-se a tremer. O Senhor descera no meio do fogo. Ele chamou Moisés para o alto e Moisés subiu. Então Deus lhe disse: Eu sou o Senhor teu Deus, que te fiz sair da terra do Egito, da casa da servidão: Não terás outros deuses diante de mim; Não farás para ti ídolos ou coisa alguma que tenha a forma de algo que se encontre no alto do céu, embaixo na terra ou nas águas debaixo da terra. (...) Não pronunciarás o nome do Senhor, teu Deus, inutilmente. Que se faça do dia de sábado um dia de descanso e preces, considerando-o sagrado (...). Moisés com as tábuas da Lei Honra teu pai e tua mãe. Não Matarás. Não dormirás com a mulher de outro homem. Não roubarás. Não dirás mentira contra teu próximo. Não desejarás nada que pertença a teu próximo. (Êxodo 20.2-17 – Tradução Ecumênica da Bíblia – São Paulo – Edições Loyola e Paulinas, 1996 – Adaptado para fins didáticos.)

A DIFÍCIL TRAJETÓRIA DO POVO JUDEU

Ao longo de sua história, muitas vezes o povo judeu enfrentou muitas dificuldades. Apesar de ter conquistado a terra prometida por Deus, ele não ficou para sempre em sua pátria, Israel. Os romanos dominaram o mundo antigo durante muitos séculos, e Israel fazia parte do Império Romano. Setenta anos depois do nascimento de Jesus, os judeus se revoltaram contra esse domínio, mas, como os romanos eram muito fortes, massacraram o povo de Israel. No ano 70, os judeus foram expulsos de Jerusalém e seu templo foi destruído pelos romanos. A partir do ano 135, eles foram expulsos de todo o país e passaram a viver dispersos pelo mundo; a isso chamamos diáspora ou dispersão. E assim, o povo judeu permaneceu durante 1800 anos: muitas vezes perseguido, ou isolados em comunidades, mas sempre acreditando em Deus e em suas promessas. Um dos mais tristes episódios da sua história ocorreu no século XX, quando os nazistas, comandados por Hitler, assumiram o poder na Alemanha. Entre 1939 e 1945, ocorreu a Segunda Guerra Mundial e, durante esse tempo, o partido nazista matou 6 milhões de judeus. Hitler e seus comandados defendiam ideias terríveis: queriam que o mundo só tivessem gente que eles consideravam de “raça pura” – loiros, aparentados com alemães. Judeus, ciganos e representantes de outras culturas tinham de ser eliminados, além de pessoas deficientes ou quaisquer outras que discordassem das ideias nazistas. Assim, os nazistas construíram os chamados campos de concentração, onde matavam essas pessoas. Entre os mortos, havia homens, mulheres, crianças, velhos e jovens. Ninguém escapava. Foi uma das passagem mais vergonhosa da história da humanidade. Depois de todo esse trauma, quando acabou a guerra, muitas pessoas passaram a defender a ideia de restituir ao povo de Israel sua antiga pátria, cuja capital na época dos romanos, era Jerusalém. Em 1948 foi estabelecida, pela Assembleia Geral da ONU – Organização das Nações Unidas, a criação do Estado de Israel, com uma nova capital: Telavive. O problema é que, enquanto os judeus ficaram fora da região por tantos séculos, lá se estabeleceram outros povos, como os palestinos, que também consideravam aquele território sua pátria. A disputa por causa disso foi imensa e não terminou ainda: os palestinos nunca se conformaram em perder suas terras; por outro lado, os israelenses ocuparam terras que não haviam sido definidas como parte de seu território. E assim, há mais de cinquenta anos, dura essa situação: palestinos luta contra israelenses, israelenses lutam contra palestinos, e esses dois povos não chegam a um entendimento.

SER AMIGO DA SABEDORIA

Na Grécia antiga, muito antes de Cristo, nasceram as ideais do que é ser sábio. E os primeiros sábios estavam interessados na ideia de Deus. Nessa aula, vamos conhecer um grande sábio da Antiguidade: Pitágoras. Ter sabedoria não é simplesmente entender muitos assuntos. É saber viver e enfrentar os problemas da existência. Os gregos achavam que os sábios devem observar a vida e saber o que é certo e o que é errado; olhar para dentro de si e desenvolver o melhor que tem, consertando o que for negativo. Desse modo o ser humano consegue ser feliz. Você gostaria de alcançar sabedoria? Já consegue perceber o que existe de mau e bom no mundo? Pratica a bondade e a compaixão com as pessoas, os animais e a natureza? Procura sentir Deus? Enfrenta com calma os problemas que aparecem em casa, na escola ou em qualquer outro lugar? Enxerga-se por dentro, vendo o que tem de melhor e de pior? Se você já consegue fazer tudo isso, está no caminho para atingir a sabedoria! PITÁGORAS SEGUNDO CÍCERO Marco Túlio Cícero (106 – 43 a.C.) foi um filósofo e orador romano que recebeu a influência dos filósofos gregos. Neste trecho de um de seus livros, ele conta como nasceu a palavra filosofia e qual a função do filósofo. Pitágoras teria tido uma conversação sábia com Leão, o tirano de Filonte. Como este último admirasse seu gênio e sua eloquência, indagando em que arte se apoiava, Pitágoras teria declinado do epiteto de “sábio” e respondido que não conhecia nenhuma arte, mas que era “filosofo”. Leão espantou-se com este termo novo e perguntou quais eram as diferenças entre os filósofos e os outros homens. Pitágoras respondeu que a vida humana era comparada a essas assembleias às quais a Grécia inteira comparecia, por ocasião dos grandes jogos: Alguns vêm aí para lutar e para obter uma coroa; outros tratam de fazer comércio; outros, enfim, não se interessam nem pelos aplausos, nem pelo ganho, mas vem para ver, simplesmente, o que se passa nos jogos. Do mesmo modo, na vida, alguns são escravos da glória, outros do dinheiro, mas outros, mais raros, observam com cuidado a natureza: São estes que chamamos de amigos da Sabedoria, de filósofos. (Cícero. Tusculanas. Citado em: Jean Francois Mattéi. Pitágoras e os Pitagóricos. São Paulo, 2000.) G L O S S Á R I O: Declinado → recusado, negado; Epiteto → título, qualificativo; Eloquência → capacidade de falar bem; Tirano → que tomou o poder a força.

UM NOVO MODO DE VIVER

Pitágoras foi o primeiro a utilizar a palavra filosofia. Mas ele também era matemático e – o que poucos sabem – fundou uma religião. É considerado um dos pensadores mais importantes da História e teve muitos alunos. Ele nasceu por volta de 532 a.C., na ilha de Samos, na Grécia antiga. Seu pai, Mnesarcos, era um rico comerciante; sobre sua mãe, Pítia, pouco se sabe. A cidade de Samos era poderosa: seu governante, Polícrates, tinha cem navios de guerra. Sob seu reinado, Samos participou de diversas guerras, principalmente contra os persas e os egípcios. Os navios eram usados para roubar os bens das cidades vizinhas. Com essas riquezas, Polícrates realizou belas obras na sua cidade. Desde de jovem, Pitágoras teve um professor muito sábio, o grego Anaximandro. Pitágoras, porém, não se considerava um sábio, mas um filósofo. Ele foi o primeiro a ensinar essa novidade, chamada filosofia. A palavra filosofia significa “amizade, ou amor, à sabedoria”. Até aquela época, quem conhecia muitas coisas, era considerado sábio ou esperto. Para Pitágoras, a verdadeira sabedoria é de Deus, e os seres humanos só podem ser amigos da sabedoria – nunca sábios de fato. O ser humano não possui a sabedoria, que é de Deus, mas deve sempre busca-la para progredir. A filosofia faz isso, indagando sobre as principais questões da existência: Quem somos? De onde viemos? O que é a vida? O Que é a morte? O que é o ser? E tantas outras. Pitágoras discordava das guerras e das ideias de Polícrates, por isso saiu da cidade e tronou-se um viajante. Em suas viagens, visitou o Egito, onde aprendeu muito sobre matemática e religião. Aprendeu também astronomia com os babilônicos – um dos povos habitantes da Mesopotâmia, região da Ásia localizada entre os rios Trigue e Eufrates -, que começaram a observar o céu quase dois mil anos antes de Cristo. Mais tarde, Pitágoras foi morar em Crotona, na Itália, onde se casou e teve dois filhos. Porém, teve de abandonar Crotona por motivos políticos: como ele e seus discípulos defendiam melhores condições de vida para o povo, os governantes que não gostavam disso, os expulsaram da cidade. Foi, então, para Metaponto, também na Itália, onde morreu aos 65 anos.

A RELIGIÃO DE PITÁGORAS

Para Pitágoras, a alma é imortal; vive mesmo depois que o corpo morre. Ele ia além, crendo na reencarnação: ideia de que as almas viveram vidas anteriores em outros corpos. Pitágoras dizia lembrar-se de suas vidas passadas. Segundo ele, apenas pelo bom comportamento o ser humano chegaria a sua perfeição moral, e após ter vivido várias vidas não precisaria mais nascer em outro corpo. Até hoje várias religiões acreditam nisso. Pitágoras e os Pitagóricos – como eram conhecido os seus discípulos -, lutavam por um mundo mais justo para todos. Ele os educava para serem pessoas de bem – e o bem não deveria ser praticado apenas em relação às pessoas, mas também aos animais. Por isso, eles eram vegetarianos. Pitágoras gostava tanto de animais que, às vezes, até conversava com eles. Muito tempo depois, um cristão faria a mesma coisa: São Francisco de Assis, que vamos estudar mais à frente. Na Grécia, no tempo de Pitágoras, praticava-se uma grande discriminação: os homens eram considerados melhores que as mulheres, e os escravos considerados piores que os animais. Mas entre os pitagóricos, não havia essa discriminação, pois todos se consideravam irmãos. As casas e as propriedades eram compartilhadas por todos, sem distinção de classes sociais. Os ricos e os pobres, os homens e as mulheres viviam como iguais. Eles acreditavam que qualquer um da comunidade poderia já ter sido rico ou pobre em uma vida passada, ou que um homem poderia ter sido mulher e uma mulher poderia ter sido homem, ou que ambos poderiam ter sido escravos; portanto, todos deviam se respeitar e se tratar como irmãos. Os ensinamentos de Pitágoras se espalharam pelo mundo. Mesmo hoje nos lembramos dele como grande filósofo e buscamos concretizar alguns de seus ideais. Mesmo que não acreditemos em tudo o que ele acreditava, podemos ver a beleza de sua vida e de seu esforço pelo bem. Podemos, assim como ele, nos tornar amigos da sabedoria.

UMA FILOSOFIA DO UNIVERSO

Na Grécia, no tempo de Pitágoras, havia muitos sábios e filósofos. Foram os gregos que inventaram coisas importantes até hoje: a filosofia, a ciência, a democracia. Foram eles também que instituíram as Olimpíadas. Dentre os sábios gregos, podemos destacar Tales de Mileto e Anaximandro. Ninguém sabe ao certo o que eles pensavam ou como foi sua vida, porque a maior parte do que escreveram se perdeu. Além disso, naquela época não se escrevia sobre as pessoas como se faz hoje. Tudo o que se queria transmitir era contado de um para o outro. Sobre Tales de Mileto sabe-se que viveu no tempo de Pitágoras e que era um homem de enorme curiosidade, que queria descobrir várias coisas, principalmente de que material era constituído o nosso planeta. A sabedoria de Tales de Mileto era famosa. Conta-se, por exemplo, que previu – com sucesso! – um eclipse por volta de 585 a.C. Mesmo assim, em sua cidade ninguém acreditava em tal sabedoria, pois achavam que se fosse realmente sábio seria rico. Tales quis então provar que era realmente sábio. Com seus conhecimentos sobre o clima, previu que haveria uma grande colheita de azeitonas. Como ainda era inverno, todos duvidaram dele, achando que o clima demoraria a ficar bom para a colheita. Com o pouco dinheiro que possuía, Tales alugou por um preço baixo, vários depósitos para armazenar azeitonas... e provou que estava certo: o tempo melhorou e houve uma enorme safra de azeitonas. Na época da colheita, os agricultores precisaram guarda-las em algum lugar e só restavam os depósitos do sábio. Ele, então, os alugou por um bom preço, ganhando bastante dinheiro. Dessa forma, mostrou a todos que se quisesse, poderia ser rico, mas, não se interessava pela riqueza e sim pela sabedoria. Tales teve um aluno importante, Anaximandro (que viria a ser o professor de Pitágoras). Ele também fez estudos sobre o planeta e foi o primeiro a elaborar um mapa das estrelas e a perceber que os planetas estão mais próximos da Terra do que as estrelas. Essas ideias, na época, eram consideradas fantásticas, pois eles não tinham telescópios nem satélites: seus únicos recursos eram os olhos e a inteligência. Pitágoras afirmava que o Universo apresentava uma ordem, uma harmonia, uma beleza e uma inteligência divinas. Todos os planetas seriam de origem divina, teriam forma esférica e estariam em constante movimento, girando suspensos no ar. Essas ideias eram contrárias a do seu mestre Anaximandro, que achava que a Terra fosse cilíndrica, mas combinam perfeitamente com o que sabemos hoje. Ele dizia também que os movimentos contínuos dos planetas produziam uma “música celeste”. De acordo com ele, os planetas precisavam girar cada um em uma velocidade diferente: as esferas que girassem mais lentamente produziriam notas musicais baixas; as esferas que girassem mais rápidos produziriam notas musicais mais altas. Quando alguém lhe indagava porque não podemos ouvir essa música celestial, Pitágoras respondia que a ouvimos desde que nascemos, mas pensamos que ela é o silêncio. Para ele, a música feita pelas pessoas deve se inspirar nessa música celeste. Ele também foi músico e seu instrumento predileto era a lira. Para Pitágoras, os números mostram a harmonia e a beleza do cosmo divino. Por isso, ele pesquisou muito a matemática. E ele estava certo, pois, com a matemática, podemos saber muitas coisas do Universo; por exemplo: o tamanho da Terra; a que distância ela está do Sol, dos demais planetas e das estrelas; quantas vezes o Sol é maior do que a Terra. Podemos também saber que existem bilhões de estrelas na imensidão do Universo.

UM DEUS ALÉM DAS ESTRELAS

Muitas pessoas, no decorrer dos tempos, ao contemplar as estrelas, o espaço ou a beleza do nosso planeta, sentiram a presença de Deus no Universo. O século XVIII, o poeta alemão Friedrich Schiller escreveu um belo poema sobre isso, chamado “Ode à Alegria”. Alguns anos depois, no começo do século XIX, Beethoven, um dos maiores compositores de todos os tempos, expressou a beleza, a harmonia, a música, a alegria do Universo numa linda composição – a “9ª Sinfonia” – usando como letra o poema de Schiller: Oder à Alegria Alegria, luz divina, que move o Universo! Nossa voz se ergue e afina Pra cantar-te em verso! A alegria acaba a descrença E nos faz darmos as mãos! Onde a alegria vença, Todos nós somos irmãos! Ser amigo de um amigo, Ter alguém para se amar! Canta júbilos comigo, Louva teu celeste lar! Muito além das lindas estrelas, Há um Deus a governar! Mesmo se não pode vê-las Há leis a se respeitar! Todos bebem a alegria Da mãe natureza! Bons e maus à luz do dia, Sentem a beleza! Sóis e flores, constelações, A alegria universal! Ela inunda os corações E dissolve todo o mal! (Friedrich Schiller. “Oder à Alegria”, poema musicado por Ludwig Van Beethoven. Versão didática de Dora Incontri.) UMA HISTÓRIA INDÍGENA Os povos indígenas brasileiros contam interessantes histórias sobre o mundo e a humanidade, nas quais demonstram grande sabedoria. Do mesmo modo que os egípcios, os babilônicos e os gregos, eles também observavam as estrelas e os demais elementos do céu. Acreditavam que a humanidade morava no céu e que depois desceu à Terra. Confira no texto “A HUMANIDADE DESCE À TERRA”, transcrito logo abaixo: Antigamente, todos os homens viviam no céu. Alguns ainda estão lá, são as estrelas. No tempo da vida celeste, um velho, numa caçada, viu um tatu e o perseguiu. O tatu enfiou-se terra adentro e o homem cavava cada vez mais fundo para apanhá-lo. Cavou o dia todo sem conseguir pegar o tatu. Voltou para casa, mas no dia seguinte recomeçou a cavar. Dizia à mulher: - Quero pegar o tatu! Cavou durante oito dias e estava quase apanhando o tatu quando o animal caiu num buraco. O velho o viu descer como um avião, cair num campo e correr em direção à floresta. Ele alargou o buraco para poder olhar para baixo, mas o vento estava tão violento que o levou de volta à superfície. O vento continuava a soprar pelo buraco, aumentando cada vez mais a abertura. Quando o velho voltou à aldeia, os outros lhe perguntaram: onde está o tatu? – Caiu numa terra debaixo da nossa, uma terra com belos campos, que não é como a nossa, é coberta de florestas. Mas o vento soprou e me trouxe de volta para cá. A história foi discutida no ngobe, a casa dos homens. Os homens mandaram um meokre, que é um menino de 13 a 14 anos, buscar o velho para que ele contasse o que lhe acontecera. Toda a assembleia resolve ir ver o buraco. O vento o alargava e dava para ver os belos campos. Tomados pelo desejo de descer, os homens juntaram todas as cordas e fios de algodão que possuíam. Fizeram uma corda única que experimentaram no outro dia, mas ainda era muito curta, só chegava à metade do caminho. Com outras pontas de fios, os homens encompridaram a corda até que ela alcançasse a terra. Um kuben-kra (que quer dizer, o filho de um homem) quis ser o primeiro a descer. Amarraram-no bem e o fizeram escorregar. O vento o empurrava de um lado para o outro. Enfim, ele chegou aos campos, achou-os belíssimos e subiu de volta. No céu, ele disse: - Os campos lá embaixo são lindíssimos, vamos viver lá! Fizeram-no descer mais uma vez e ele amarrou a extremidade inferior da corda numa árvore. Então, homens, mulheres e crianças escorregaram ao longo da corda. Pareciam formigas descendo por um tronco. Muitos não tiveram coragem de descer, preferindo ficar no céu. E cortaram a corda para impedir mais uma descida. (Betty Mindlin. O Primeiro Homem e Outros Mitos dos Índios Brasileiros. São Paulo: Cosac & Naify, 2001) DE OLHO NO MUNDO: REENCARNAÇÃO, ONTEM E HOJE Pitágoras não foi o único a crer na reencarnação. Essa ideia foi aceita por muita gente, em várias regiões do mundo. Inúmeras eram as pessoas, tanto no Oriente como no Ocidente, que acreditavam nela como uma verdade religiosa. Na Antiguidade, a religião dos egípcios, dos ceutas, dos gregos e dos maias admitia a reencarnação. Todas as crenças reencarnacionistas admite que o ser humano é livre para fazer suas escolhas nesta vida, mas depois deverá enfrentar as consequências de seus atos em outra existência. Os atos bons produzirão boas colheitas; os atos maus poderão acarretar sofrimento no futuro. Ainda de acordo com essa ideia, o ser humano é sempre dono do seu destino e sempre terá novas oportunidades de fazer melhor o que faz de errado, aprendendo com os próprios erros. Hoje em dia, as principais religiões reencarnacionistas são o hinduísmo, o budismo e o espiritismo. Estas duas últimas, se consideram filosóficas, à maneira de Pitágoras. Entre as religiões que creem na reencarnação, algumas consideram que a alma do ser humano pode reencarnar em um animal; outras, que a alma volta somente como homem ou mulher. No Brasil, a principal corrente reencarnacionista é a espírita. Segundo essa visão, a alma humana jamais volta num corpo de animal. “Os céus narram a glória de Deus, o firmamento proclama a obra de suas mãos. O dia transmite a mensagem ao dia, e a noite a faz conhecer à noite. Não é um discurso, não há palavras, não se lhes ouve a voz. Sua harmonia se estende sobre toda a Terra, e sua linguagem, até as extremidades do mundo.” (Salmo 19, de Davi – Bíblia Sagrada)

UM CAMINHO DE VIDA

UM SÁBIO DO POVO De tempos em tempos, surgem no mundo pessoas que criam belas e importantes religiões ou que vivem de modo tão especial sua religião que se tornam exemplos de amor e conhecimento. Elas nos ajudam a saber que todos nós podemos atingir a sabedoria e a verdade. Já conhecemos Pitágoras. Na mesma época – século VI a.C. -, viveram importantes sábios e personalidades da religião: os profetas Ezequiel e Daniel, em Israel; Sólon, também na Grécia, como Pitágoras; Buda, na Índia; Confúcio e Lao-Tsé, na China. No momento, vamos conhecer a história de Confúcio, considerado um dos maiores sábios que já existiram. Alguns dizem que ele é o pai de uma religião chamada confucionismo. Outros acham que se trata de uma filosofia. Mas, assim como Pitágoras, Confúcio entendia que as leis da natureza e do mundo são divinas. Era filósofo, mas tinha profunda religiosidade, pois achava que havia recebido uma “missão do céu” para ensinar as pessoas. OS ENSINAMENTOS DE CONFÚCIO O principal livro que conta várias passagens da vida de Confúcio e muitos de seus ensinamentos foram escrito por seus discípulos. É o Lun Yú, ou Analectos. Desse livro foi extraído o seguinte ensinamento: O poder pode ser alcançado pelo conhecimento mas não pode ser mantido pela bondade certamente acabará se perdendo. O poder que é alcançado pelo conhecimento e mantido pela bondade não será respeitado pelo povo se não for exercido com dignidade. (Confúcio. Anacletos, 15.33. São Paulo: Martins Fontes, 2000) Em outro de seus ensinamentos, Confúcio imaginava um mundo diferente deste em que vivemos, onde tudo fosse organizado com harmonia e as pessoas fossem respeitadas e felizes. Seus discípulos anotaram suas ideias. Quando a ordem perfeita prevalece, o mundo é como um lar do qual todos participam. Homens virtuosos e capazes são eleitos para cargos públicos e homens dignos ocupam empregos rendosos na sociedade. Paz e confiança entre todos os homens são os princípios básicos e indiscutíveis da vida. Todos os homens amam e respeitam seus próprios filhos, bem como os pais e os filhos dos outros. Há cuidado com os idosos, emprego para os adultos, alimento e educação para as crianças. Há meios de sustento para as viúvas e para os viúvos, para todos os que se encontram sós no mundo e para os incapacitados. Cada home e cada mulher terá um papel apropriado para interpretar na família e na sociedade. Um sentido de participação substitui os efeitos do egoísmo e do materialismo. Uma devoção aos deveres públicos não deixa lugar para a preguiça. Intrigas e conivência com lucros ilícitos são desconhecidas. Vilões como ladrões e assaltantes não existem. A porta de cada casa não necessita ser fechada e trancada durante o dia e a noite. Essas são as características de um mundo ideal, o Estado como bem público. (Confúcio. “A essência da mensagem do Estado como um bem público”, The Record o frites, Book IX. http://www.confucius.org) G L O S S Á R I O: CONIVÊNCIA → cumplicidade, colaboração; Ilícitos → ilegais; INTRIGAS → fofocas, traições.

A SABEDORIA QUE VEM DO CÉU

A China possui uma das culturas mais antigas da humanidade, mas o Ocidente demorou muito a conhecer esse país: apenas por volta do ano 1200 os europeus lá chegaram, com o italiano Marco Polo. Por essa época, os chineses já haviam desenvolvido muitos inventos interessantes, como a bússola, o papel e a pólvora. A arte chinesa também era riquíssima, e quando Marco Polo e sua família chegaram à China ficaram encantados com a beleza das sedas, a riqueza das pinturas e a arquitetura tão diferente da que existia na Europa. Confúcio nasceu na China no ano de 551 aC, numa antiga cidade chama Lu. Seu pai, um famoso guerreiro, morreu quando ele tinha apenas três anos, e sua mãe o criou na pobreza. Assim, Confúcio trabalhou desde cedo para ajudar a família e vivia no meio dos camponeses. Entre os chineses – como em outros lugares do mundo e até hoje -, quem vivia do cultivo da terra era desvalorizado pelos governantes. Os camponeses trabalhavam e pagavam altos impostos aos senhores, que enriqueciam cada vez mais. Confúcio era muito inteligente e frequentou a escola desde os 7 anos de idade. Quando jovem, recebeu ajuda da família Ki, importante em sua cidade, e conseguiu um emprego como guarda de depósito. Depois, foi pastor de ovelhas, e, mais tarde, dedicou-se ao ofício de professor. Assim como Pitágoras, teve muitos alunos: conta-se que foram mais de 3 mil. Ele sempre procurava ajudar as pessoas com problemas e preocupava-se com as condições de vida delas: acreditava que todos deveriam encontrar bem-estar, viver com justiça e receber educação. Mesmo depois que se tornou famoso, continuou a conviver com as pessoas do povo. Confúcio pedia cooperação e fraternidade entre todos os seres humanos, mas, na visão dele, só há uma forma de construirmos um mundo melhor: seguindo a sabedoria que recebemos do Céu. As leis feitas pelo ser humano pouco valem diante das leis divinas. E mais: nascemos com as leis divinas dentro de nós e somente quando as tivermos desenvolvido é que alcançaremos a paz interior e a felicidade. Certa vez, Kung de Lú – como Confúcio também era conhecido -, ao visitar um governante que lhe pediu orientação sobre qual seria a lei do Céu, respondeu-lhe com estas belas palavras: O perfeito é a lei do Céu, e a perfeição, a lei da humanidade. Para Confúcio, as pessoas buscam a felicidade em lugares errados – nas riquezas materiais e nos prazeres do mundo -, mas a encontrariam apenas nas coisas espirituais. Quando agimos de acordo com as leis espirituais, seguimos o que ele chamava de “Caminho do Tao”, que tem, entre outros significados, o de “bom caminho”. Enquanto muitos acreditavam (como até hoje acreditam) que os seres humanos seriam naturalmente maus, Confúcio discordava. Considerava a todos como naturalmente bons e afirmava que essa bondade não poderia se perder durante a vida; deveria ser desenvolvida desde a infância pela família, pela escola e pelo Estado. Essa ideia de essência boa quer dizer que, embora o ser humano possa ser malvado e fazer coisas muito ruins, no fundo sempre existe algo de bom dentro de sua alma. Mesmo o pior criminoso tem um lado bom – essa seria a essência boa, que pode ser a qualquer momento despertada.

O CAMINHO DO CÉU

Confúcio trabalhou intensamente a vida toda para que os governantes realizasse a educação do povo. Segundo ele, o soberano deveria ser um exemplo de sabedoria e bondade, pois, se desse maus exemplos, levaria o povo à desgraça. Se os governantes seguissem as leis do Céu, promoveriam a educação das luzes divinas em todo o povo. O povo nunca deveria ser castigado, pois o castigo não melhora ninguém – muito menos uma criança, que deve ser amada. A iluminação, isto é, a perfeição de um povo não depende, pois, de castigos, mas de uma boa educação. Os pensamentos de Confúcio ainda hoje permanecem atuais. Quando tantas pessoas vivem sem esperança e a violência parece ser uma realidade sem solução, seu exemplo surge com força para continuarmos lutando por um mundo em que os valores espirituais de igualdade, fraternidade e cooperação façam parte das relações humanas. Lau-Tsé foi um sábio chinês cujo nome significa “velho mestre”. Alguns acham que ele fundou uma importante religião chamada taoismo; outros, que apenas continuou uma tradição que já existia na China. O texto mais importante dessa religião é o Tao Te Ching (Escritos sobre o Tao e suas virtudes, em português). O Taoismo, de Lau-Tsé, e o confucionismo de Confúcio, representam as mais importantes religiões da China. Os pensamentos de Lao-Tsé contidos no Tao Te Ching, são lidos até hoje no mundo inteiro. Alguns historiadores afirmam que Lao-Tsé e Confúcio teriam vivido em épocas diferentes e que Lao-Tsé seria posterior a Confúcio. Outros afirmam que eles eram contemporâneos e que, certa vez, se encontraram, quando Confúcio estava em visita à capital dos reis Chou. Lao-Tsé e Confúcio teriam conversado sobre o orgulho e a cobiça. Eles concordavam que os seres humanos deveriam renunciar às ambições, pois uma pessoa cheia de virtude deve mostrar-se simples. Segundo se conta, Lao-Tsé abandonou a corte. Ao chegar à fronteira, o guarda pediu-lhe que antes de ir embora escrevesse seus ensinamentos. Resolveu, então, escrever o Tao Te Ching, que contém mais de 5 mil palavras, e depois disso desapareceu. Muitos dos seus ensinamentos eram diferentes dos de Confúcio. Os taoistas criticam o confucionismo por ser cheio de regras e defendem o Tao por ser um caminho mais livre, mas natural. Diz um taoista de hoje: Como o Céu, o Tao é repleto de espaço, é tolerante, abrange todas as coisas, e dentro dele estão as regras e os princípios fundamentais da vida. Poucas regras e princípios. (...) E na nossa vida também deve ser assim. Devemos ter dentro de nós um imenso espaço para nos realizar, para viver, tendo alguns princípios fundamentais como referências. (Wu Jyh Cherng. Iniciação ao taoismo. Rio de Janeiro: Mauad, 2000.) SER UM SER HUMANO Rudyard Kipling foi um famoso escritor que nasceu em 1865, em Mumbai, na Índia, e estudou em Londres, na Inglaterra. Aos 17 anos, voltou à Índia. Escreveu obras belíssimas que tiveram grande popularidade no mundo inteiro. Vamos conhecer um de seus poemas mais famosos e belos, chamado “Se”. Ele combina perfeitamente com as virtudes pregadas e vividas por Confúcio. SE Se és capaz de manter a tua calma quando Todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa; De crer em ti quando estão todos duvidando, E para esses no entanto achar uma desculpa; Se és capaz de esperares sem te desesperares, Ou, enganado, não mentir ao mentiroso, Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares, E não parecer bom demais, nem pretencioso; Se és capaz de pensar – sem que a isso só te atires; De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores; Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires Tratar da mesma forma esses dois impostores; Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas Em armadilhas as verdades que dissestes, E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas, E refazê-las com o bem pouco de que te reste; Se és capaz de arriscar numa única parada Tudo o quanto ganhaste em toda a tua vida, E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, Resignado, tornar ao ponto de partida; De forçar coração, nervos, músculos, tudo A dar seja o que for, que neles ainda existe, E a persistir assim quando, exaustos, contudo Resta a vontade em ti que ainda ordena: “persiste!” Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes, E, entre reis, não perder a naturalidade, E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes, Se a todos pode ser de alguma utilidade, E se és capaz de dar, segundo por segundo, Ao minuto fatal todo o valor e brilho, Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo E o que é mais – tu serás um homem, ó meu filho! (Rudyard Kipling. Obras-primas da poesia universal. Trad. Guilherme de Almeida. São Paulo: Editora São Paulo, 1957.)

RELIGIÃO E EDUCAÇÃO

De uma forma ou de outra, a educação sempre foi uma prática entre os povos de todas as épocas. Os chamados povos primitivos, por exemplo, não construíam escolas: suas crianças eram educadas por pessoas mais velhas da comunidade. Já na Grécia e em Roma, a família e o Estado educavam as crianças. Na Idade Média, foi a igreja que assumiu a responsabilidade pela educação. Ao longo da história, muitas pessoas – como Confúcio, por exemplo – lutaram para que toda a humanidade tivesse direito à educação. Entretanto, somente em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tivemos reconhecido o direito de todo ser humano à educação. Nem a Declaração da Independência Americana, de 1776, nem a Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa, de 1789, continham entre seus princípios alguma referência à educação como direito do ser humano. Vejamos o que diz a esse respeito, no vigésimo sexto artigo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos: § 1º Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. § 2º A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e palas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. § 3º Os pais tem prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos. (Extraído de: http://www.direitoshumanos.usp.br) Outra importante conquista para a educação foi a criação, em 1946, da UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), com sede localizada em Paris, na França. A UNESCO tem a proposta de ajudar organizações não-governamentais (ONGs) na realização de programas educativos. Ela desenvolve atividades de apoio a escolas e à criação de bibliotecas, de luta contra o analfabetismo e de promoção da educação de adultos, além de muitos outros programas a favor da educação. ALFABETIZAÇÃO E RELIGIÃO As informações divulgadas no Censo Demográfico 2000 pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – apontam que, das dez cidades com maior índice de analfabetismo no Brasil, oito estão localizadas no estado do Rio Grande do Sul e duas no estado de Santa Catarina. O município com menor número de analfabetos é São João do Oeste, em Santa Catarina, onde 99,2% da população sabe ler e escrever. São dados importantes, já que ainda não realizamos a educação de toda a nossa população – o Brasil está entre os dez países com maior população de adultos analfabetos. As cidades mais alfabetizadas do Brasil foram colonizadas por alemães. Em entrevista ao Jornal Zero Hora de Porto Alegre, Fernando Becker, mestre em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que os colonizadores alemães não aceitavam que as pessoas não soubessem ler, escrever e fazer contas. Então, construíam escolas para seus filhos. Voltaire Schilling, historiador, também ouvido pelo Zero Horas, diz que a religião foi fundamental nesse processo de alfabetização. Os colonizadores alemães eram da Igreja luterana (Protestante). Nessa religião, todos precisam estar alfabetizados para ler os textos bíblicos. Por outro lado, a maior parte da colonização no Brasil foi realizada por portugueses católicos. Como a Bíblia era escrita em latim, somente as pessoas cultas podiam lê-la., e não o povo. Então, apenas um pequeno grupo precisava saber ler. Os especialistas parecem ter razão, uma vez que Martinho Lutero – líder da Reforma Protestante e fundador da Igreja Luterana na Alemanha -, em um sermão pronunciado em 1530, já dizia: “enviem as crianças às escolas”. A religião luterana chegou ao Brasil bem mais tarde, por volta de 1820, com os imigrantes alemães que para cá vieram. Lutero defendeu a necessidade de educação para todos. Segundo ele, a escola deveria ser mantida pelo Estado. E a frequência das crianças deveria ser obrigatória, a fim de aprenderem uma profissão, a ler e escrever: (...) é grande e solene o dever que nos é imposto, um dever de imensa importância para Cristo e para o mundo, prestar auxílio e conselho à juventude. (Informações extraídas do artigo: “Religião ajudou a baixar índice de analfabetismo”. http://www.adital.org.br)

DE PRÍNCIPE A MENDIGO

Um príncipe que se fez mendigo e percorreu as estradas, pregando a com paixão. Essa é a origem de uma das religiões que mais tem adeptos no mundo: o budismo. Assim como o confucionismo, de Confúcio; e o taoísmo de Lao-sé, o budismo teve um fundador: Buda. Quando Buda nasceu, a Índia já era uma civilização milenar e a religião que os indianos praticavam era o hinduísmo, até hoje a principal religião daquele país é uma das mais antigas do mundo: seus livros sagrados, Os Vedas, datam de cinco mil anos. Para os budistas, os ensinamentos de Buda pode nos libertar da dor. Ao seguirem seu exemplo, porém, os budistas não consideram Buda um salvador ou um deus. Por isso, alguns até acham que o budismo é mais uma filosofia de vida do que uma religião. Para eles, cada ser humano deve percorrer pessoalmente o caminho indicado por Buda e esse caminho é possível para todos e não depende de nenhuma ajuda divina. Prepare-se para conhecer uma das maiores figuras da humanidade. Segundo a maior parte dos historiadores, os oitenta anos da vida de Buda se passaram ao longo do século V aC. O príncipe Siddartha Guatama, mais tarde chamado Buda, nasceu numa família rica. Seu pai, o rei Suddhodana, tinha grande prestígio. O menino cresceu cercado de proteção e de mimos. Casou-se e teve um único filho. Um dia, ao atravessar a cidade, Gautama ficou abalado com a miséria em que viviam as pessoas e com as doenças que as acometiam. Ponderou, então, que nem toda a sua riqueza o livraria da velhice, da doença e da morte. Por isso, decidiu ajudar as pessoas a refletir sobre essas questões e abandonou o conforto e a família para viver de forma simples, sem apego materiais e livre dos sofrimentos. Gautama comunicou ao pai sua decisão, mas o rei não concordou e ordenou aos guardas que cercassem o palácio. Porém, isso não o deteve: numa noite, pegou seu cavalo, enganou os guardas e fugiu. Foi viver no meio da floresta. Lá, encontrou monges brâmanes (da religião hindu) e, sob a orientação deles, tentou chegar à libertação dos sofrimentos. Mas, depois, deixou-os para tentar sozinho a iluminação e tornar-se um Buda, que significa “iluminado”. Certa vez, Gautama dormiu e sonhou que se tornaria naquele mesmo dia um Buda. Ao anoitecer, sentou-se embaixo da mesma árvore onde todos os outros que atingiram a iluminação se haviam sentado. Imóvel, meditou até atingir, sozinho, esse estado de iluminação: um despertar, uma consciência plena da verdade. Gautama havia, finalmente, se tornado um Buda.

A MENSAGEM DE BUDA

Buda tornou-se um monge mendicante, seguido por cinco discípulos. Com uma tigela de esmolas, foi mendigar nas aldeias vizinhas. Ensinava aos discípulos que o melhor a fazer era seguir o “caminho do meio”: não é preciso ser radical e chegar a extremos para obter a iluminação. Nosso objetivo deve ser o domínio das paixões e dos desejos mundanos. Devemos renunciar, sim, a uma vida de prazeres como a de um príncipe, mas não precisamos ter uma vida cheia de privações e autopunições. Por meio de um caminho de equilíbrio e virtudes espirituais, alcançaremos o fim de todo o sofrimento humano. Em torno de Buda reuniram-se muitos discípulos, de todas as classes sociais, pois ele não concordava com a divisão da sociedade em castas, característica da Índia. Desse modo, ele formou a grande comunidade dos mendicantes budistas. Assim como Pitágoras, Buda tinha lembranças de vidas passadas. Dizia que em vidas anteriores havia conquistado as qualidades para se tornar um Buda. Numa dessas vidas, tinha sido o príncipe Vessantra (também conhecido como Sudana) famoso pela sua misericórdia e compaixão. Vessantra gostava de ajudar as pessoas e atendia a todos os pedidos que lhe faziam. Sua compaixão era tão grande que acabou dando tudo o que tinha e ficando pobre. Buda precisou de várias vidas para chegar à iluminação. Então, os budistas entendem que são necessárias inúmeras encarnações para atingir as virtudes da iluminação. Por isso, Buda compreendia os erros e as dificuldades de seus discípulos, pois achavam que eles estavam no caminho da aprendizagem. Dizia que, dependendo dos pensamentos, das ações e palavras em uma vida, teremos bem-estar ou desgraças, boas ou más reencarnações futuras. Essa ideia de que nossas ações boas ou más têm consequências em outras vidas chama-se carma. A religião hindu já falava disso. Em companhia de seus discípulos, Buda viajou por muitas cidades, pregando sobre o carma, a reencarnação, a imortalidade da alma, a libertação da dor, o caminho do meio, a bondade, a compaixão, a luta contra o egoísmo. Com esses ensinamentos, Buda conseguiu que seu pai, afinal, se tornasse também seu discípulo. Buda aconselhou o pai a ter uma boa conduta e um coração generoso. O dever de um pai de família, assim como o dos monges mendicantes, era responder ao ódio com amor, pois amando a todos os seres do Universo é que atingimos a felicidade. Ele possuía apenas suas vestes, sua tigela de esmolas, seu bastão. Comparava o religioso ao operário: uma pessoa de fé não deveria descansar antes de cumprir sua tarefa, a iluminação divina. O príncipe mendigo nunca descansou; mesmo velho, andando apoiado em muletas, percorria a Índia ensinando sua doutrina. Suas últimas palavras aos monges foram: “esforçai-vos sem cessar”. Morreu aos 80 anos. Os budistas acreditam que ele atingiu o nirvana: o estado em que o ser consegue a libertação do desejo e da dor. A obra de Buda difundiu-se em muitas regiões da Ásia, e, por ter se espalhado por vários países do mundo, existem diferentes tradições budistas. Na Índia, seu país de origem, o budismo quase desapareceu – apenas recentemente as ideias de Buda começaram a ser recuperadas.

OS ENSINAMENTOS DE BUDA E A FELICIDADE

Para os budistas, Buda não é apenas um nome: é um estado atingido por qualquer pessoa que consiga a iluminação. Então, segundo a filosofia budista, todos podemos nos tornar budas. Para isso, o antigo príncipe Gautama (também escrito “Gotama”, como no texto a seguir) mostrou o Caminho: Renunciando à violência contra as criaturas, abstendo-se delas, o eremita gotama vive como um homem que depositou que depositou o bastão e o gládio; é escrupuloso, bom, amigável e compassivo por tudo o que respira, por todas as criaturas. Renunciando a tomar o que não é dado, abstendo-se disso, o eremita Gotama vive como um homem que só toma o que lhe é dado, que espera que se lhe dê; vive, não pelo furto, como um Eu tornado puro. Renunciando às palavras caluniosas, o eremita Gotama delas se abstém: tendo ouvido qualquer coisa aqui ele não é homem de repeti-lo adiante para criar a discórdia; nem tendo ouvido qualquer coisa adiante, de repeti-lo aqui para criar a discórdia. Assim ele é reconciliador das pessoas que não estão de acordo, ele aproxima os que não são amigos. A concórdia é seu prazer, seu deleite, sua alegria; a concórdia é o móvel de sua palavra. Renunciando às palavra duras, Gotama delas se abstém. A palavra que é doce. A palavra que é doce, agradável ao ouvido, afetuosa, que vai direto ao coração, que é cheia de urbanidade, de amenidade, que é agradável às pessoas, eis as palavras que ele pronuncia. Renunciando à tagarelice frívola, o eremita Gotama dela se abstém; ele fala no momento preciso, ele diz o que é, fala do objetivo, (...) fala da disciplina, diz palavras dignas de serem conservadas, com comparações nos momentos precisos, palavras cheias de discernimento, com referência ao objetivo. (Ananda K. Coomaraswamy. O pensamento vivo de Buda. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1967.) O DALAI LAMA E A FELICIDADE O budista Dalai Lama é o líder religioso e político do povo tibertano. Segundo ele, o objetivo dos seres humanos é a busca da felicidade. Sua luta pela paz mundial e pelos direitos humanos, além de tê-lo tornado internacionalmente conhecido, demonstra o quanto trabalha para que todos consigam atingir essa felicidade. Por isso, recebeu vários prêmios, como o Prêmio Nobel da Paz e o Prêmio Albert Schweitzer. O Dalai Lama governou o Tibete até 1959, ano em que a China passou a dominar à força o seu país e os monges que governavam a região tiveram de ir para a Índia. Ele é o 14º da linhagem dos Dalai Lama e os religiosos budistas o consideram a reencarnação do 13º Dalai Lama. Suas palavras sobre a felicidade revelam bem a filosofia budista: Para mim o próprio objetivo da vida é perseguir a felicidade. Isso está claro. Se acreditarmos nessa religião ou naquela, todos estamos procurando algo melhor na vida. Por isso, para mim, o próprio movimento da nossa vida é no sentido da felicidade... Agora as pessoas às vezes confundem a felicidade com o prazer. (...) do meu ponto de vista, a maior felicidade é de quando se atinge o estágio de liberação no qual não existe sofrimento. Essa é a felicidade genuína, duradoura. A verdadeira felicidade está mais relacionada à mente e ao coração. A felicidade que depende do prazer físico é instável. Um dia, ela está ali, no dia seguinte, pode não estar. G L O S S Á R I O: ABSTENDO-SE → evitando, deixando de fazer algo; CALUNIOSAS → mentirosas; COMPASSIVO → compreensível; EREMITA → que vive distante da sociedade; ESCRUPULOSO → cuidadoso, íntrego; FRÍVOLA → sem valor, fútil; GLÁDIO → espada, poder, luta; URBANIDADE → polidez, educação

AS CASTAS INDIANAS

As sociedades antigas eram rigidamente divididas em classes. No Egito, na Grécia, em Roma, existiam basicamente duas classes: os governantes e os governados. As classes mais privilegiadas exerciam as tarefas de poder: o de pensar e o de falar. Para as classes subalternas, restava apenas o fazer. Ainda hoje temos sociedades divididas por classes, e, embora, não exista tanta rigidez quanto no passado, as divisões em classes continuam a gerar muitas desigualdades. Na Índia, onde nasceu o budismo, há mais de três mil anos existe um sistema de classes sociais, denominadas castas. Em nenhum caso pode se mudar de uma classe para outra. Além disso, certas classes são discriminadas, isto é, vistas com preconceitos. São estas as castas existentes na sociedade indiana: ● brâmanes: → sacerdotes considerados puros/ ● xátrias ou guerreiros: → protetores de todos contra a maldade; ● vaicias: → lavradores, comerciantes e artesãos; ● sudras: → servos e escravos. Existem, ainda, os chamados “impuros” ou “párias”, que não pertence a nenhuma casta. São nascidos da união de pessoas de castas diferentes ou foram expulsos de sua casta por terem violado as leis religiosas. Antigamente, eles não podiam viver na cidade nem ler os livros sagrados. Graças à atuação do líder religioso Gandhi (que estudaremos na aula (00)), as castas deixaram de ser reconhecidas pela lei, mas ainda existem como diferença de classe na sociedade indiana. Os párias continuam com dificuldades para conviver com as outras castas. Essas diferenças geram graves problemas, como o racismo e a discriminação social. Atualmente, os membros das castas mais baixas não concordam com essa posição e querem ter seu problema resolvido, mas o governo da Índia recusa-se a discutir o assunto. Os membros das altas castas têm as profissões mais privilegiadas e conseguem os melhores empregos, como o sacerdócio. Os das castas mais baixas ficam com os piores trabalhos. Mesmo assim, o governo indiano introduziu uma série de medidas para proporcionar às castas mais baixas → milhões de pessoas → acesso à educação e a melhores empregos.

A PRESENÇA BUDISTA NO BRASIL

Segundo os especialistas, o budismo nasceu no século V a.C., na Índia, parte oriental do mundo, mas somente no século XX ele foi trazido ao Ocidente. Ele chegou ao Brasil com os primeiros imigrantes japoneses. No início, a versão dele chamada zen-budismo, praticada no Japão, era a mais seguida aqui; hoje a linha tibetana do Dalai Lama está crescendo. Há vários templos e cursos de meditação em nosso país e é aqui também que está localizado o maior templo budista da América Latina: o Zu Lai, construído em 2003 na cidade de Cotia, em São Paulo. Os budistas percorrem o mundo em busca de pessoas que, segundo acreditam, são reencarnações de seus mestres do passado. Há alguns anos, eles identificaram no Brasil um dos mestres budistas reencarnados: o garoto Michel Lenz Cesar Calmanovitz, que tinha 13 anos de idade e morava na cidade de São Paulo, e foi reconhecido pelo monge Gangchen Rimpoche, durante uma viagem ao Brasil, em 1994. Segundo Gangchen, o menino é a reencarnação de um importante mestre tibetano: o Lama Lobsang Choepel (Drubtchok Gualwa Samdrup), monge que viveu no século XV e foi um grande mestre e autor de estudos sobre astrologia e cura. Michel seguiu ainda menino para a Índia. Seu pai, que era da religião judaica, e sua mãe, presbiteriana (uma denominação cristã, evangélica), converteram-se ao budismo e apoiam a missão do filho. Hoje, o brasileiro que se tornou o Lama Michel Rinpoche tem uma vida muito diferente da que tinha no Brasil. Sua rotina é cheia de orações, aulas de tibetano e estudos da religião budista. Ele estudou na Universidade Monástica de Sera Me, na Índia, onde morou alguns anos. Hoje, reside na Itália e trabalha na Fundação pela Paz Mundial Lama Gangchen. Michel não é o primeiro brasileiro a receber o título de Lama. Em 1983, já adulto, Antonio Carlos da Costa e Silva também se tornou um Lama. OS DIREITOS DO HOMEM NO AMANHECER DO SÉCULO XXI Muito frequentemente, quando as pessoas ouvem falar de amor e de compaixão, têm o sentimento de que isso se relaciona com práticas religiosas. Mas, não é necessariamente o caso. Em vez disso, é muito importante reconhecermos que a compaixão e o amor são fundamentais nas relações entre os seres sensíveis em geral e os seres humanos em particular. No início da nossa vida e de novo quando envelhecemos, apreciamos a ajuda e a afeição dos outros. Infelizmente, entre esses dois períodos de nossa vida, quando somos fortes e capazes de cuidar de nós, negligenciamos o valor da afeição e da compaixão. Como a nossa própria vida começa e acaba com a necessidade da afeição, não seria melhor praticarmos a compaixão e o amor pelos outros enquanto somos fortes e capazes? Apenas ganhamos amigos genuínos quando exprimimos respeito pelos outros e preocupação pelos seus direitos. Isto é o que experimentamos claramente na nossa vida cotidiana. Não é necessário ler complicados tratados filosóficos nesse sentido. Na nossa vida de todos os dias, estas coisas são uma realidade. Por conseguinte, a prática da compaixão, a prática da sinceridade e do amor são fontes essenciais para a nossa própria felicidade e satisfação. Assim que desenvolvermos semelhante atitude altruísta, desenvolvemos automaticamente a preocupação pelo sofrimento dos demais e simultaneamente desenvolvemos a determinação de fazer algo para proteger os direitos dos outros e para nos interessarmos pela sua sorte. (Extraído do texto: “Discurso do Dalai Lama sobre direitos humanos”, Centro para Cura das Atitudes. http://www.cca.org.br)

O HOMEM QUE PROCUROU ENTENDER O QUE É O BEM

Depois de conhecer Confúcio e Buda no Oriente, vamos falar de um homem, da Grécia antiga, que influenciou muito a história da humanidade. Seu nome era Sócrates, e, assim como Pitágoras, era filosofo. Sócrates queria entender o que é a virtude, a capacidade do ser humano de fazer o bem. Há muitas informações diferentes sobre Sócrates, pois ele próprio nada escreveu. Quem fez registros a seu respeito foram os amigos e até os inimigos. Um de seus alunos mais importantes foi Platão, também filosofo, e é em sua obra, escrita há quase 2500 anos, que buscamos as principais narrativas de Sócrates. VISITANDO A GRÉCIA Vamos nos transportar até a Grécia do Século V aC. Lá, localizamos Atenas, uma bela cidade, com muitas estátuas e monumentos, além de praças e templos, repletos de colunas harmoniosas e pinturas cheias de graça. Nessa cidade, como em outras da Grécia, praticava-se a democracia, o governo do povo: os cidadãos podiam participar das decisões, votar e dar sua opinião. É o que se pretende ter hoje como sistema de governo na maioria dos países do mundo, inclusive no Brasil. Mas a democracia grega não era como hoje: mulheres, escravos e estrangeiros não eram considerados cidadãos e não participavam das decisões políticas. Naquela época, era muito importante, falar e fazer discursos. Afinal, quem convencia o povo de que estava dizendo a verdade ou que tinha razão, conseguia votos e ganhava poder! Assim, surgiram os chamados sofistas que ensinavam a oratória – a arte de falar – e cobravam caro por esse ensino. Mas a eles não interessavam que seus alunos falassem: segundo eles, não existiam nem mal e nem bem; tudo era uma questão de opinião. Graças à oratória, muitos políticos falavam de forma elegante, mas nem sempre verdadeira, e conseguiam votos para decisões muitas vezes injustas. Queriam poder, fama e dinheiro, sem pensar no bem da sociedade e na justiça de seus atos. Até hoje, aliás, a democracia enfrenta esse problema: políticos que prometem e não cumprem o que prometeram. Foi aí que apareceu Sócrates.

O SÁBIO QUE SABIA QUE NADA SABIA

Sócrates nasceu em 470 aC, na cidade de Atenas. Seu pai, Sofronisco, era escultor e sua mãe, Fernareta, era parteira. Casou-se com Xamtipa e teve três filhos. A princípio, dedicou-se a profissão do pai, depois tornou-se um corajoso guerreiro, em batalhas entre Atenas e outras cidades gregas. Mas o que Sócrates principalmente fez na vida foi filosofar. Como já estudamos, filosofar é ser amigo da sabedoria. É buscar sempre a verdade. É querer conhecer sempre mais a respeito das coisas e nunca se contentar com aquilo que já se sabe. É fazer perguntas profundas sobre assuntos essenciais. O maior interesse de Sócrates era em relação à moral. Ele queria saber o que eram a justiça, o bem, a coragem... todas essas formas de comportamento humano que são chamadas de virtudes. Sócrates não era como os sofistas, que cobravam das pessoas para ensinar. Ele filosofava gratuitamente em praça pública, com qualquer um que quisesse. E também tinha uma forma diferente de filosofar: conversando com os outros. Ao contrário dos sofistas, Sócrates achava que existiam, sim, o bem e o mal e também a verdade. Mas ele não ensinava o que era essa verdade. Não ia dizendo, logo de saída, “a justiça é isso; a coragem é aquilo...”. Ele ajudava as pessoas a descobrir a verdade. Ia fazendo perguntas até a pessoa chegar à resposta. Dizia que havia herdado de sua mãe o gosto por fazer partos, só que, enquanto a mãe fazia partos de crianças, ele fazia partos de ideais: conseguia extrair a verdade de dentro dos seres humanos. Era, portanto, um educador. Ajudava os outros a aprender por si mesmos. Platão conta que, certo dia, perguntaram à pitonista (espécie de vidente da época) do Oráculo de Delfos quem era o homem mais sábio da Grécia. E, por intermédio da pitonisa, o deus Apolo respondeu: “Sócrates”. Foram correndo dizer a Sócrates o que o Oráculo havia afirmado. Ele ficou bastante surpreso e perguntou a si mesmo por que seria ele o mais sábio, se havia tanta gente mais sábia do que ele. Foi, então conversar com todos os que eram considerados sábios e descobriu que eles não sabiam muita coisa. Pior: eles achavam que sabiam muito! Assim, Sócrates descobriu porque ele era o mais sábio. Sou o mais sábio, pois sou o único que nada sabe! Para Sócrates, a sabedoria não era saber tudo, mas querer sempre saber mais e achar que ainda se sabe muito pouco. Quem sabe que não sabe quer aprender mais... Mas, assim como muita gente que com atos de bravura e bondade ajudou a mudar o mundo, Sócrates sofreu perseguições. Ele criticava as injustiças e aqueles que se achavam sábios e não o eram. Com isso, ganhou muitos inimigos, que inventaram calúnias contra ele, dizendo que corrompia a juventude e criticava os deuses. Aos 71 anos de idade, em 339 aC., Sócrates foi levado ao tribunal, onde se defendeu dessas mentiras. Disse que sua ocupação de filosofo era para tornar a cidade de Atenas mais justa. Explicou que chamava a atenção das pessoas para que não fossem tanto atrás de dinheiro, luxo e poder, pois o mais importante era aperfeiçoar a alma e ser justo. Sua brilhante defesa de nada adiantou: foi condenado à morte. Entre os gregos, a morte de um condenado se dava pelo envenenamento com cicuta, uma planta mortífera. Mas Sócrates não ficou desesperado. Primeiro, disse que era melhor morrer e continuar fiel à verdade do que viver tanto e desmentir suas palavras. Depois, explicou que a morte era uma passagem para outra vida. Ele acreditava que, embora o corpo morresse, a alma continuaria eternamente viva.